O agente autônomo de investimentos George Henrique Vieira Marinho está sendo investigado pela Delegacia Especializada em Defraudações e Falsificações da Polícia Civil (Defa) pela acusação de dar uma série de golpes contra pelo menos 22 clientes. O montante do prejuízo apurado até o momento é de R$ 1.067.000,00, valor relativo a 17 clientes sobre cálculo feito em 2020. Neste cálculo não estão os R$ 500 mil que a própria mãe de George teria perdido em aplicações feitas pelo filho. Ao todo, no entanto, o prejuízo passa dos R$ 2 milhões. Um dos IPs foi transformado em denúncia, proposta pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, e acolhida pelo juiz Gustavo Grillo Ferreira, da 10ª Vara Criminal de Vitória no dia 4 de outubro deste ano, conforme Ação Penal nº 0006312-52.2022.8.08.0024.
Diversas vítimas e seus advogados entraram em contato com o Blog do Elimar Côrtes desde o início de outubro, apresentando cópias de Inquéritos Policiais, Boletins Unificados registrados na Polícia Civil e até da denúncia proposta pelo Ministério Público, conforme Gampes 2022.017.9831-68. São, ao todo, 10 procedimentos instaurados em desfavor de George Marinho: uma denúncia apresentada pelo MPES e recebida pela Justiça; um Inquérito Policial concluído pela Defa aguardando denúncia do MP; dois Inquéritos Policiais em fase de relatório final; e seis Boletins Unificados sem inquérito aberto.
George utilizou uma plataforma internacional para fazer as aplicações do dinheiro de seus amigos e parentes. Utilizou a plataforma conhecida como Forex, que, segundo boletim chamado de Alerta divulgado em 2018 pela Comissão de Valores Mobiliários, é proibida no Brasil. Este alerta, no entanto, George teria omitido de seus clientes:
“Considerando que até o presente momento (maio de 2018) não há qualquer oferta relacionada ao mercado Forex registrada na CVM, ou corretora autorizada pela autarquia a atuar nesse mercado, qualquer oferta feita no Brasil é ILEGAL. Isso inclui, mas não se limita, ofertas feitas por instituições estrangeiras por meio da internet. Note que pessoas domiciliadas no Brasil podem investir no exterior, em Forex ou em qualquer outro tipo de ativo, mas, naturalmente, é preciso atentar para que sejam seguidas as regras da Receita Federal e do Banco Central com relação aos adequados procedimentos para envio e recebimento de recursos e recolhimento de tributos.”
Na denúncia em desfavor de George, que já tramita na 10ª Vara Criminal da Capital, em que George foi transformado em réu, o promotor de Justiça Sérgio Alves Pereira, da 19ª Promotoria de Justiça de Criminal de Vitória, pede à Justiça a condenação do agente financeiro nas iras do artigo 168 (‘Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção. Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa’), § 1º, inciso III (‘A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: em razão de ofício, emprego ou profissão’).
Essa Ação Penal tem como vítima o oficial de Justiça do Trabalho Ricardo Santos Junger, que teria perdido R$ 173.530,00. Segundo consta nos autos, em dezembro de 2020 Ricardo Junger procurou o escritório de George Marinho para realizar aplicações em operações estruturadas junto à Bolsa de Valores, “uma vez que o denunciado se apresentou como agente autônomo da Corretora Modal Mais”. Na negociação, ainda segundo a denúncia, George prometeu a Ricardo “altas rentabilidade, operações com juros superiores a 5%. Que tais juros eram previamente estabelecidos e as operações realizadas com a garantia de rentabilidade, informações confirmadas em depoimento do denunciado e em conversas do aplicativo WhatsApp”.
No início, segundo a denúncia do Ministério Público, George Marinho cumpriu o combinado com o oficial de Justiça do Trabalho Ricardo Junger, mas os problemas começaram a surgir a partir de julho ode 2021, quando o denunciado informou à vítima que a Corretora Modal teria mudado de direção, tendo sido adquirida pela Credit Suisse. Assim, diz trecho dos autos, “em decorrência dessa mudança, o valor pré-estipulado não seria pago em todas as outras operações, que pagaria apenas o valor resultante no vencimento das opções”.
Ainda em julho de 2021, George não teria repassado os juros de aplicação de R$ 100 mil ao oficial de Justiça. A partir de setembro as novas aplicações/operações não foram realizadas e a vítima ficou com a promessa de pagamento e um débito de R$ 173.530,00.
Ainda conforme a denúncia, Ricardo Junger foi ao escritório de George tentar receber os valores devidos. Chegaram a um acordo e o agente financeiro prometeu realizar os pagamentos da seguinte forma: R$ 60 mil até dezembro, divididos em três parcelas, ficando o restante parcelado em seis vezes em parcelas de R$ 15 mil.
“Entretanto, findado o prazo ajustado para o cumprimento do acordo, o denunciado não cumpriu com nenhuma parcela, nem tão pouco atendeu os contatos efetuados pela vítima”, diz a denúncia do Ministério Público.
Ricardo Junger manteve contato com outro funcionário da Corretora Modal. Ao perguntar sobre a situação da instituição financeira, foi informado que a Credit Suisse teria “adquirido apenas 16% da Modal Mais e que suas operações estruturadas sempre foram devidamente honradas nos percentuais estabelecidos, nunca chegando às taxas mencionadas”.
Depoimento das vítimas
Ricardo Junger:
George Marinho, como agente autônomo da Modal Mais, me enganou que estava fazendo aplicação naquela corretora e usou o dinheiro para outras coisas, dentre elas, constando confissão no meu Inquérito, ele aplicou no mercado Forex, sem qualquer consentimento, fazendo aplicações Day Trade. Aplicações que apresentaram grandes prejuízos.
Em certos momentos, ele me pagava juros, mas que eram ‘reaplicados’ em novas operações, até que em certo momento não conseguiu pagar os juros e foi enrolando.
Entrei nessa por meio de um amigo, de nome George Viana, amigo de infância do golpista, que também perdeu dinheiro, juntamente com mais sete parentes. Suas vítimas foram parentes, amigos e conhecidos. Não entrei nessa só pela amizade, mas pelo fato de ser um agente autônomo credenciado pela Corretora Modal Mais. Eu não o conhecia, apenas conhecia meu amigo George Viana, que, junto com a confirmação do credenciamento na corretora, fez-me acreditar nele. Quero ver esse golpista George Marinho na cadeia.
Vinícius de Oliveira Rocha:
O George era o meu agente autônomo de investimento (AAI) cadastrado pelo Banco Modal, através da corretora ModalMais, desde 14 de abril de 2020. Portanto, alguém em quem eu depositava confiança absoluta para tratar de meus investimentos e finanças. Meu relacionamento era inclusive presencial, por meio de seu escritório situado em local nobre de Vitória, na Rua Celso Calmon, 135, Praia do Canto, praticamente vizinho à Delegacia de Polícia Civil do bairro.
Um belo dia, em 14 de julho de 2021, recebi um comunicado súbito da Modal descontinuando a assessoria de George e vinculando unilateralmente a minha carteira a um assessor de outro Estado, sem maiores explicações. Nesta altura, já havia realizado as aplicações por meio do George e decidi não fazer mais nenhum aporte.
O George, quando ainda me atendia pela Modal, me fez duas propostas de aplicação financeira SEM RISCO, sob o retorno fixo de 5%, e, uma delas, reajustada mais tarde para 3,5%, no valor de R$ 30 mil cada, alegando que faria “operações estruturadas” pela plataforma e que só teria condições de fazê-las em razão de sua atuação como AAI. Eu não pretendia arriscar mais nenhum valor, pois havia muitos ativos adquiridos, e foi aí que ele me apresentou essa aplicação sem risco. Foram transferidos valores de R$ 30 mil em 05 de janeiro de 2021, que, segundo ele, “o cliente descobriu um problema de saúde recentemente” e outro em 13 de abril de 2021, sob alegação de que havia “um contrato em andamento” e “o cliente faleceu de Covid”, totalizando R$ 60 mil. Ao todo, o prejuízo apurado foi de pelo menos R$ 22.552,62, descontando rendimentos, juros ou correção monetária acumulados por quase dois anos.
Apesar de alguma restituição, ele solicitou reaplicação do valor em mais duas oportunidades, em 23 e 25 de agosto de 2021, o que lhe foi negado. Criou vários subterfúgios e embaraços para restituir a última aplicação no valor de R$ 30 mil, o que não ocorreu, sob as mais variadas desculpas ao longo de quase seis meses, a exemplo do recurso supostamente retido no exterior, tentativa de empréstimos com familiares, limite de saque em caixa eletrônico, “luvas” (bonificação) que uma suposta corretora lhe concederia, aguardando por “maciça do INSS” e, pasmem, uma suposta transferência internacional por meio de telefone num paraíso fiscal nas Ilhas de Man no Reino Unido, a fim de justificar uma ausência de comprovante para apresentar. Foi realmente uma via crucis, muito tempo despendido, não sei como cheguei ainda com fôlego para buscar as autoridades ao final desta peregrinação, cuja fase também sacrificante.
Tenho um arrependimento e um trauma enorme de investir com a plataforma e tê-lo como meu assessor. Nunca mais consegui abrir minhas carteiras e comprar ou vender ativos – tenho diversos ativos adquiridos desde o ocorrido, mas não encontro forças para fazer qualquer movimento ante o golpe sofrido: é uma mistura de vários sentimentos; eu me sinto atingido de uma maneira tão vil e covarde, que jamais consegui me perdoar por acreditar em quem era o responsável por gerir minha carteira numa plataforma de um banco. Ainda não consigo superar, pois o recurso era fruto de muito trabalho e ele tinha ciência disto. Tenho vergonha de olhar no olho das pessoas, fruto dessa desilusão. Mas, jamais me acovardei de buscar por justiça e deixar isto impune para que não ocorra com mais ninguém, além de buscar ressarcimento pelo prejuízo.
Paulo Vitor Rios Franceschi:
Conheço o George Marinho desde meu ensino médio, há 18 anos atrás. Éramos amigos e por isso tinha minha confiança. Há mais de um ano, em maio de 2021, sabendo que eu já operava no mercado financeiro, ele me ofereceu um investimento de operação estruturada na Bovespa, sem risco nenhum, com uma rentabilidade de 7,54% pra dois meses. De acordo com ele, essa operação era disponível apenas para agentes autônomos ligados à corretora (ModalMais), mas estava liberando para amigos mais próximos. Por isso, deveríamos depositar o dinheiro direto na conta pessoal dele. Investi a quantia de R$ 30 mil, com a promessa de pagamento do montante em dois meses. Foi feito um contrato e nós dois assinamos.
Passados dois meses, solicitei o saque do montante e George falou que, como o mercado estava num momento complicado, era melhor esperar mais uns meses para poder resgatar o dinheiro. Acreditei e concordei em estender o prazo, pois naquele momento ainda confiava nele, já que o conhecia há tantos anos e ainda por ser um agente autônomo de investimentos inscrito na CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Em dezembro de 2021, falei que precisava do dinheiro, e que o prazo já havia se estendido demais. A partir daí foram inúmeras desculpas, sempre com a promessa de que ia honrar o pagamento. Até fizemos outro contrato, em que ele iria realizar 20 pagamentos mensais de R$ 1.500,00. Não honrou nenhum pagamento, e a todo momento inventava desculpas, acredito que apenas para “ganhar tempo”.
A partir desse momento, me dei conta que tinha caído em um golpe de estelionato e nesse momento fiz a notícia do crime na Polícia Civil, a fim de conseguir a reparação do meu prejuízo.
Simei Del Pupo da Rocha:
Tudo começou no dia que resolvi aceitar a proposta de George Marinho, um conhecido de longa data que disse trabalhar no mercado financeiro a um bom tempo (13 anos conforme a conversa). Ele ofereceu-me uma oportunidade que, para ele, era bem interessante. Isso foi no dia 13 de setembro de 2021. No momento eu ainda estava pagando dívidas e tinha a expectativa de começar a investir no começo de 2022. Mas as propostas eram vindas de um amigo, que frequentava minha casa, bebíamos juntos e até fomos no Karaokê.
Mas bem, momentos que se perderam somente na memória. A partir daí fechamos um contrato de R$ 70 mil o qual seria mediante um consignado com o Banco Santander e ele me ressarciria R$ 4.340,00 por mês, sendo que o Santander descontava R$ 1.760,00 aproximadamente. Isso me dava um lucro de R$ 2.580,00 mais ou menos por mês. A proposta inicial era esse contrato durar um ano. Estava bom pra mim, pois os valores estavam explícitos no contrato que fechamos entre nós. Sobre isso tudo, tenho as conversas por Whatsapp que comprovam que fui levado a emprestar o dinheiro com o intuito de investimento somente com promessas de bons lucros e baixo risco.
Após o primeiro mês, com pagamento tudo certo e conversas amigáveis e constantes. Nesse momento, tínhamos apenas o contrato com o Santander e o contrato entre duas pessoas físicas dele me pagar R$ 4.340,00 por mês. Mas as coisas começaram a engrossar.
Essa mesma pessoa, George Marinho, me falou sobre uma oferta imperdível na qual ele me pagaria 17,5% sobre R$ 65.235,27. Tendo ele como amigo e os negócios indo bem no outro contrato, fechamos o segundo contrato. Isso foi um dos piores erros de toda a minha vida. Foram dois contratos de consignados com bancos diferentes para fazermos esse negócio. Um com o C6Bank de R$ 800,00 e um com o Banco do Brasil de R$ 356,85.
Prejuízos contabilizados até o momento, desconsiderando atualização monetária e juros de rendimentos.
1) R$ 22.550,00
2) R$ 83.000,00
3) R$ 93.000,00
4) R$ 30.000,00
5) R$ 126.540,00
6) R$ 23.360,00
7) R$ 9.000,00
8) R$ 37.000,00
9) R$ 50.000,00
10) R$ 30.000,00
11) R$ 11.000,00
12) R$ 85.000,00
13) R$ 200.000,00
14) Bradesco- R$ 135.000,00
15) R$ 16.000,00
16) R$ 30.000,00
17) R$ 86.000,00
Total aproximado: R$ 1.067.000,00
‘Dinheiro aplicado virou pó’, diz advogado do acusado
O advogado Clebson da Silveira, que faz a defesa do agente financeiro George Marinho nos Inquéritos Policiais e na Ação Penal acolhida pela Justiça, informou que seu cliente atuava para bancos e corretoras de valores. Segundo o advogado, George apenas “indicava aos clientes a melhor aplicação e que não realizava operações específicas”.
O dinheiro aplicado por George no Forex – aplicação considerada ilegal pelo Governo brasileiro – pode ter passado dos R$ 2 milhões. Até a mãe dele perdeu R$ 500 mil. Todo o dinheiro, segundo o advogado, “virou pó”. Ou seja, não existe mais.
“Quando alguns amigos viram que o George estava ganhando dinheiro com as aplicações, pediram que ele fizesse o mesmo com seus recursos. George foi procurado por amigos, familiares e parentes para fazer, em nome deles, operações no mercado Forex”, explicou o advogado.
“Que fique bem claro: ao fazer as aplicações a pedido dos amigos, George atuou como cidadão comum e não como agente financeiro credenciado pelo mercado. No início, ele teve bons resultados com as aplicações, mas as operações começaram a dar negativo. Ou seja, o dinheiro investido por George e que era de seus amigos (clientes) não existe mais. O dinheiro virou pó”, acrescentou Clebson da Silveira.
O advogado garante, no entanto, que George não agiu de má-fé e também perdeu dinheiro. “Tanto que meu cliente nunca ostentou riqueza. Ele sequer tem onde morar. Perdeu até apartamento e teve que se mudar para a casa dos pais. Por conta de toda essa situação, se separou da esposa. Maior prova de que meu cliente não é estelionatário é que ele foi indiciado pela Polícia Civil e denunciado pelo Ministério Público Estadual pela suposta prática de apropriação indébita”, afirmou Silveira.
Em julho de 2018, o Portal do Investidor da Comissão de Valores Mobiliários (CMV), uma autarquia vinculada ao Ministério da Economia, divulgou em sua Série Alerta sobre Forex. Informa que, a partir de consultas e reclamações recebidas, é comum que a CVM identifique ofertas irregulares de investimento no mercado Forex, efetuadas por instituições não autorizadas a atuar no mercado de valores mobiliários brasileiro. Essas ofertas, diz o Alerta, muitas vezes recheadas de promessas de alta rentabilidade, têm atraído investidores que nem sempre estão adequadamente cientes das características e, especialmente, dos riscos envolvidos nessas negociações, e que frequentemente enfrentam problemas para recuperar os valores investidos, descobrindo que, na verdade, foram vítimas de fraudes. Por essas razões, explica a CMV, “a oferta desse tipo de investimento a investidores de varejo é até mesmo proibida em diversos países.”
Segundo o advogado Clebson da Silveira, um dos erros de George Marinho foi que ele nunca escondeu os riscos de seus “amigos” – clientes: “O Forex é o maior mercado de moedas do mundo. O George sempre operou em nome dele. Meu cliente não ficou rico. Pelo contrário, ele não tem nenhum bem, porque todo o dinheiro, inclusive o dele, virou pó. A Defa (Delegacia Especializada de Defraudações e Falsificações) indiciou meu cliente porque o delegado não conseguiu entender onde foi parar o dinheiro”, disse o defensor de George.
Na verdade, prossegue o advogado, “faltou gerenciamento por parte do George. Ao ver que estava perdendo, ele tinha que ter suspendido as aplicações”. De acordo com Clebson da Silveira, a Defa entendeu não haver fraude e que George não enganou os clientes: “Apresentamos à Autoridade Policial cópia dos extratos das aplicações, em que provamos que ele (George) estava perdendo dinheiro”, disse o advogado.
Segundo ele, até a mãe de George, uma aposentada do Banestes, teria perdido R$ 500 mil nas transações feita pelo filho: “Isso prova que ele não teve má-fé. Na verdade, o George é um agente financeiro profissional, mas, ao fazer as aplicações para seu amigos, ele teve outra atuação que não a de agente financeiro”, disse Clebson da Silveira.