Delegacias e viaturas abandonadas, distritos funcionando sem delegados e com a população atendida por estagiários cedidos pelos Municípios no lugar de policiais civis. Essa é apenas uma amostra da real situação enfrentada pelos cidadãos que buscam socorro da Polícia Civil no interior do Estado de São Paulo. Nesta terça-feira (08/02), o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) e outras 12 entidades representativas das carreiras policiais entregarão um ofício ao Governo do Estado solicitando diálogo sobre os problemas da instituição.
No final de 2021, o Sindpesp visitou distritos em todo o interior do Estado, para ouvir dos policiais os principais problemas enfrentados no trabalho diário. A situação encontrada em algumas regiões é caótica. Delegacias interditadas e desocupadas, viaturas abandonadas no meio da rua e distritos que só estão abertos porque as Prefeituras cederam estagiários para atuar no lugar que deveria ser ocupado por policiais concursados.
“O déficit de pessoal da Polícia Civil de São Paulo supera 15 mil policiais. O resultado é que delegacias não têm policiais para funcionar e estão abertas com estagiários das Prefeituras, situação precária e que coloca em risco a segurança da população”, explica a presidente do Sindpesp, Raquel Gallinati. Outro efeito da falta de policiais é que delegacias de 300 municípios do interior paulista funcionam sem um delegado e são atendidas por profissionais de cidades vizinhas.
Dentre as Polícias Judiciárias brasileiras, a Polícia Civil do Estado de São Paulo é a maior do País. De acordo com a delegada Raquel Gallinati, o déficit de recursos humanos chegou a 15.291 cargos vagos em 31 de dezembro de 2021, de um total de 41.912 previstos por lei.
“Esse número representa o insustentável índice de 36,38% de vagas abertas, o maior de toda a história, o que faz com que os delegados de todo o Estado tenham que pedir socorro às Prefeituras dos municípios para manter os distritos policiais ativos”, diz a presidente do Sindicato dos Delegados de São Paulo.
Salários baixos afastam talentos
A queixa mais frequente é o salário pago aos policiais. Os delegados paulistas recebem os salários mais baixos do Brasil, quando comparados aos profissionais dos outros Estados. Investigadores e escrivães também estão entre as menores remunerações.
“Além do pagamento não ser condizente com as dificuldades e os riscos da carreira policial, o baixo salário afasta os aprovados em concursos, que preferem assumir vagas em outros Estados, onde o salário chega a ser mais que o dobro do pago em São Paulo”, exemplifica Raquel.
Em janeiro, o Estado chamou 391 aprovados em concurso para tomar posse em seus cargos. Dos nomeados, 44% não compareceram para assumir os cargos.
Nesta terça-feira (08/02), o Sindpesp vai protocolar no Palácio do Governo do Estado um ofício solicitando a abertura de negociações para tratar dos principais problemas da Polícia Civil paulista. Além dos delegados, outras 12 entidades representativas das carreiras policiais também assinam o documento.
“Estamos unidos para mostrar a realidade ao governador (João Doria) e solicitar diálogo para solucionar questões como a falta de estrutura e a necessidade de um plano de carreira que atenda às necessidades dos policiais”, completa Raquel Gallinati.