O secretário-geral do PSB e governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, afirmou ao jornal O Globo ser contra o partido integrar uma federação com outras legendas de esquerda, como PT e PCdoB. Casagrande disse mais: se algum candidato a Presidente da República, que não seja o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), for ao segundo turno disputar contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), “poderá surpreender”.
Casagrande revelou que, dentre os motivos que o levam a ser contra a federação com outros partidos, está o fato de que o acordo poderia “acomodar” os dirigentes do PSB, pois eles se esforçariam menos para formar lideranças, atrair novos filiados e montar chapas competitivas para o Legislativo. Casagrande frisou também que a ida do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin para a sigla está pacificada dentro do PSB, e que agora depende do ex-tucano a decisão de se filiar ou não.
Confirma abaixo a íntegra da entrevista de Renato Casagrande concedida ao O Globo.
Como andam as conversas sobre a possível federação partidária do PSB com outros partidos de esquerda, como PT e PCdoB?
Eu, pessoalmente, sou contra o partido fazer federação. Acho que a federação partidária acomoda o partido. Independentemente de quem se coligue com o PSB, eu sou contra. É um equívoco.
Por que o senhor acha que a federação pode acomodar o partido?
Quando você faz a federação, os dirigentes partidários não correm atrás de novas filiações, novas lideranças, não fazem chapa (nominata) completa de deputado federal, deputado estadual. Muitos dirigentes se sentem já resolvidos, sem precisar ir atrás de novas lideranças. Se o PSB quiser continuar se consolidando como um partido de médio para grande porte, como ainda é hoje, tem que ter chapa federal em todos os estados.
O PSB esteve mais próximo ao PDT na eleição de 2020. Agora está prestes a formar uma aliança com o ex-presidente Lula. O que mudou?
O que mudou é a avaliação que a maior parte da executiva nacional faz da possibilidade de ter uma candidatura mais forte para enfrentar o projeto do Bolsonaro. Mas o PSB não descarta conversa com o PDT. O partido, de fato, estreitou as conversas com o PT, mas não fecha as portas para conversar com o PDT. A decisão do partido só será tomada em abril.
Mas há, ainda, costuras a serem resolvidas nos estados para fechar essa aliança com o PT, não?
Esses obstáculos têm relação com a possível aliança com o PT. O PSB trabalha com algumas alternativas, duas mais possíveis: uma aliança com a candidatura de Lula e outra com Ciro Gomes (PDT). A conversa que o PSB teve com o PT inclui o debate em alguns estados. Mas tratamos a filiação de (Geraldo) Alckmin e a aliança com o PT de forma separada. Com relação à filiação (de Alckmin), considero que, da nossa parte, está resolvida.
Alckmin passou 33 anos no PSDB, foi governador de São Paulo quatro vezes e não tem identificação com o PSB. Não acha arriscado filiá-lo mesmo que a aliança com o PT não esteja fechada nem a posição de vice garantida?
Ele (Alckmin) não é identificado (com o PSB), mas é uma pessoa séria. Acredito que o partido ganha, independentemente de o Alckmin ser vice ou não de Lula. Pode ser candidato ao governo, ao Senado. Ele e Márcio França (ex-governador de São Paulo) têm uma relação muito próxima. Fortalece o projeto (do partido) em São Paulo. A filiação de Alckmin não está vinculada totalmente a uma aliança nossa com o PT. Ele pode se filiar e o partido, por exemplo, ter outra pessoa na aliança. Ou ele pode não se filiar ao PSB, e o partido fazer aliança com o PT.
O que ainda falta para anunciar oficialmente a filiação de Alckmin?
A gente já teve uma conversa do presidente Carlos Siqueira com o governador Alckmin, e a decisão está na mão dele. O PSB, de repente, virá a ser vice (de Lula) caso ele decida vir, mas a bola agora está no pé dele, não está no pé do PSB. O PSB já tem uma avaliação interna positiva com relação à filiação dele. Cabe a ele essa decisão.
Lula aparece bem à frente do Bolsonaro nas pesquisas eleitorais, mas faltam dez meses para as eleições. O que o senhor acha que pode influenciar esse cenário?
Primeiro, o tempo. Não temos certeza de que o cenário se manterá. Segundo, Bolsonaro. Se ele mantiver um pouco mais equilibrado em 2022, ele pode manter a polarização com o presidente Lula. Mas se ele errar, se fragilizar, se a economia de fato passar por um processo de deterioração muito forte, pode ser que alguém dispute com Bolsonaro a vaga no segundo turno. Se alguém da terceira via for para o segundo turno com o Lula, a eleição pode surpreender.
Nos últimos anos, os governadores ocuparam o vácuo deixado pelo governo federal lançando iniciativas diversas, como a liderada pelo senhor para captar recursos para a Amazônia. A tendência é continuar este ano?
Eu acho que sim. O governo federal se afasta de alguns assuntos importantes, então os estados precisam avançar para fazer um equilíbrio de presença. Mas não é um assunto articulado, isso vai surgindo de acordo com a necessidade. Se isso vai continuar em 2023, depende do presidente da República que for eleito.
Seu governo enviou apoio à Bahia em razão das enchentes que assolaram o sul do estado. Como avalia a postura do presidente da República de não visitar a região?
O presidente da República tem sempre um comportamento diferente do bom senso. Isso agrada uma parte das pessoas e desagrada a grande maioria. Não é uma postura que manifesta solidariedade num momento de tristeza, morte, prejuízo. Acho que é do próprio estilo dele, é da natureza dele ser essa pessoa que não se sensibiliza com esse tipo de evento, ter empatia para se colocar no lugar dos outros.