Há alguns dias li que duas poderosas empresas transnacionais estariam comercializando café produzido por escravos, digo, crianças – elas trabalhariam umas oito horas por dia, seis dias por semana, a troco de uma remuneração irrisória.
Esta matéria remeteu-me a uma outra segundo a qual milhares de crianças africanas estariam perdendo a infância garimpando minerais que compõem muitos dos produtos eletrônicos que consumimos.
Por falar na África, recentemente noticiou-se que importantes corporações do ramo alimentício estariam adquirindo – conscientemente – cacau produzido por crianças reduzidas à escravidão mais bárbara.
Não nos esqueçamos do mundo das confecções. Denunciou-se que em um único país civilizado há entre 250.000 e 400.000 crianças trabalhando sob condições desumanas produzindo roupas para diversas empresas. Segundo consta, seriam refugiadas – além da queda, coice.
Não muito longe dali idêntico martírio estaria sendo imposto pela indústria de pescados. De cana de açúcar. Do tabaco. Do desmonte de navios velhos. De brinquedos – sim, até disso. E por aí seguimos.
Deixei por último a que mais me chocou: 40.000 crianças com no máximo oito anos de idade estariam sacrificando a infância assistindo, a troco de quase nada, doentes de todo tipo – isso em um país dos mais circunspectos do planeta.
Em síntese, denunciou-se que pelo mundo afora 73 milhões de escravos, digo, de crianças entre 5 e 11 anos estariam trabalhando duro a troco de uma merreca qualquer.
A imprensa, insistentemente, noticia que vários dos produtos produzidos desta forma são comercializados pelo planeta afora sem maiores incômodos – inclusive ali na esquina de nossas ruas.
Não fique com pena dessas crianças – afinal, nas palavras de Josh Billings, “ter dó não custa nem vale nada”. O de que elas precisam é de ações – apuração séria de cada denúncia e rigorosa responsabilização civil e criminal dos eventuais culpados. Não deve ser tão difícil fazer isso, pois a esmagadora maioria das reportagens que li trazia dados bastante concretos.
Nossa civilizada e cristã sociedade, porém, muitas vezes opta por omitir-se diante de algumas empresas “grandes demais para quebrar”. Prefere aguardar a chegada do Natal para ir a alguma igreja fazer o sinal da cruz diante da manjedoura exposta lá no altar.