Dia 11 de fevereiro de 2017. O aquartelamento dos policiais capixabas, que começara dia 3 do mesmo mês, entrava em sua primeira semana. Naquele dia 11, dezenas de assassinatos tinham sido registrados em todo o Espírito Santo.
O então secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, o pernambucano André Alburquerque Garcia, convocou a imprensa para declarar que o governo estava investigando a hipótese de que havia policiais militares da ativa e da reserva participando de assassinatos e outros crimes desde o início do movimento “grevista”.
“Isso não está descartado. E há um grupo investigando exatamente esses crimes que aconteceram nos últimos dias. E, se houver a participação de policiais, eles deixam de ser policiais e passam a categoria de bandidos. Serão trados como tal”, disse André Garcia, em coletiva de imprensa na sede da Sesp.
12 de fevereiro de 2017. Era um domingo. O então secretário André Garcia volta a falar sobre o assunto, desta vez, acrescentando que uma força-tarefa, formada pelas Polícias Federal e Civil, “vai investigar a participação de policiais militares em crimes com sinais de execução durante a crise de segurança no Espírito Santo”. Até aquele dia, foram 144 homicídios desde o início do movimento.
O Espírito Santo ficou sem a PM nas ruas por causa do protesto de familiares, na porta de batalhões e demais unidades, que impediam a saída dos policiais.
Diante do número de crimes, a Sesp, naquela ocasião, acertou com a Polícia Federal a criação de uma força-tarefa para investigar a autoria e motivação dos homicídios registrados na última semana, principalmente nos municípios da Grande Vitória.
15 de janeiro de 2019. Gabinete do governador Renato Casagrande, no Palácio Anchieta. Minutos depois de anunciar os motivos que o levaram a apresentar à Assembleia Legislativa Projeto de Lei Complementar da Anistia, que visa beneficiar 2.622 militares capixabas que teriam se envolvido no aquartelamento de 2017, Casagrande passa a palavra ao diretor-geral da Polícia Civil, delegado Darcy Arruda, que expõe os números da instituição em relação aquele fevereiro sangrento.
De acordo com o delegado Arruda, em todo mês de fevereiro de 2017 foram registrados 224 homicídios no Espírito Santo. Deste total, 141 casos – Inquéritos Policiais – foram concluídos com autoria conhecida e encaminhados à Justiça, para análise do Ministério Público Estadual e do Poder Judiciário – abertura de processo e julgamento dos acusados.
“Esse número de Inquéritos concluídos representa 62,95%”, disse o diretor-geral da Polícia Civil.
O delegado Darcy Arruda garantiu ainda: “O que mais impactua nas investigações é que não ficou constatada nenhuma participação de policiais militares nos assassinatos apurados. Posso garantir que nem nos crimes – homicídios – que ainda faltam ter sua investigação concluída há sinais de suspeita de envolvimento de policiais.”
Segundo ele, os outros Inquéritos Policiais, relativos aos demais 83 homicídios, continuam em apuração. O diretor-geral da Polícia Civil publicou nesta terça-feira (15/01) Portaria designando dois delegados para atuarem junto à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa para acelerar na investigação dos demais 83 inquéritos. Os delegados designados são Carlos Tadeu Carvalho de Menezes e Eduardo Khaddour.
“Até o final do ano, passaremos a borracha nesse passivo”, afirmou Darcy Arruda.
Na coletiva, governador Renato Casagrande agradeceu o empenho da Polícia Civil e disse que a instituição policial capixaba é uma das que mais elucidam crimes no Brasil.