O cenário que se desenhava para a eleição da nova diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Espírito Santo (OAB/ES) acaba de sofrer uma reviravolta. O pré-candidato Luciano Machado, atual secretário-geral da entidade, renunciou à disputa alegando razões pessoais. Em seu lugar, à frente da chapa da situação, entrou o atual presidente, Homero Mafra, que conclui o segundo mandato consecutivo. Como não houve nem tentativa de esclarecer as alegadas razões pessoais que levaram à desistência de Luciano, o mercado viu-se liberado para especulações de todo tipo.
Há quem diga, por exemplo, que o candidato da situação sempre foi Homero e todo esse movimento não passou de manobra orquestrada por ele para justificar a possível quebra da palavra dada na eleição passada – no final de novembro de 2012. Uma tese que faz sentido, se lembrarmos que, ao se candidatar à reeleição em 2012, ele assumiu o compromisso formal de não disputar novo mandato. Esta foi, aliás, a condição para unir em torno do seu nome lideranças que já trabalhavam na formação de outras chapas.
Nessa tese, a pré-candidatura de Luciano Machado pelo grupo da situação seria apenas um artifício para que Homero Mafra possa se apresentar aos eleitores e à sociedade como o líder que vai para o sacrifício atendendo ao chamamento da categoria, e não como alguém que supostamente deixou de cumprir com a promessa, algo muito comum nos meios políticos.
Todos que falaram em nome do grupo “A voz do advogado”, organizado em torno da candidatura da situação, se apressaram em negar a existência do tal conchavo. Mas o próprio Homero cuidou de reforçar a boataria, ao afirmar que “meu nome era a mudança menos traumática, apesar dessa acusação leviana de que terceiro mandato é golpe”.
Em outra direção, há quem garanta que a desistência de Luciano se deveu a razões bem mais simples. Esses dizem ter conhecimento de pesquisas apontando o crescimento da pré-candidatura de José Carlos Rizk, que entrou na disputa como representante dos jovens advogados e daqueles que militam no dia a dia dos fóruns e cartórios judiciários. Assim, diante da perspectiva de perder o controle da entidade, o grupo “A voz do advogado” teria pressionado a desistência de Luciano Machado para mudar a configuração do cenário eleitoral com a recandidatura de Homero Mafra, que, aliás, acaba de retornar de um passeio a Cuba.
Havendo ou não consistência nessas teses, o fato é que, espremida entre dois polos, a terceira chapa que se organiza em torno da pré-candidata Santuzza da Costa Pereira teve seu espaço de movimentação eleitoral ainda mais reduzido. Ela já enfrentava dificuldade para construir um discurso de oposição, uma vez que disputa com os representantes da atual diretoria a mesma faixa do eleitorado.
Agora, ao invés de enfrentar um candidato ungido pela situação, terá que encarar o próprio presidente, enquanto Rizk corre sozinho em raia própria. Talvez por isso tenha partido do grupo de Santuzza a reação mais estridente à recandidatura de Homero Mafra. Dizem por lá que essa manobra já era esperada e que a quebra de compromisso é, sim, um golpe. É briga de gente grande, muito distante dos problemas que afligem de fato os advogados militantes. E olha que a campanha ainda nem começou.
Só para lembrar: o pai de Santuzza, o ex-presidente da Ordem, Agessandro da Costa Pereira, que é seu principal cabo eleitoral, comandou a OAB-ES entre 1989 e 2005. Nada menos do que sete vezes seguida. O doutor Agesandro da Costa Pereira é um homem de respeito. Homero Mafra está na direção da OAB/ES desde 2010. Tanto ele quanto Santuzza são procuradores do Estado.
Todos são ótimos profissionais para dirigir a Ordem: Homero Mafra, Santuzza da Costa Pereira e José Carlos Rizk. Todavia, o mercado enxerga que somente Rizk, que nunca presidiu a OAB, seria o único nome que representa a verdadeira novidade na briga pela Presidência da Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo.