O coronel Laércio Oliveira, novo chefe do Comando de Polícia Ostensiva Especializada (CPO-E), da Polícia Militar do Espírito Santo, decidiu mexer no Batalhão de Missões Especiais (BME). Já anunciou que vai exonerar do cargo o atual comandante da unidade, tenente-coronel Jocarly Martins de Aguiar Júnior, responsável por um excelente trabalho à frente da Tropa de Elite da PM capixaba. O motivo alegado pelo coronel Laércio, no entanto, não condiz com a realidade.
Para o comandante-geral da PMES, coronel Marcos Antônio Souza do Nascimento, Laércio alegou que está trocando o comando do BME porque o tenente-coronel Aguiar não o teria comunicado sobre a implantação do Exame de Atenção Computadorizado para os militares da Tropa de Elite, previsto para se iniciar em 1º de outubro. Chateado, o coronel Laércio, então, decidiu mexer no BME, colocando no lugar de Aguiar o tenente-coronel Pires – a troca ainda não foi publicada no Boletim Geral da Polícia Militar.
A história, entretanto, não é bem assim. De acordo com fontes ouvidas pelo Blog do Elimar Côrtes, no dia 3 de junho deste ano, por meio da CI (Comunicação Interna) número 125/2015, o tenente-coronel Jocarly Aguiar comunicou ao CPO-E que estaria elaborando uma proposta para a implantação do Exame de Atenção Computadorizado, programa que tem o objetivo de avaliar a capacidade de atenção; orientar possíveis fatores que possam estar interferindo na qualidade de vida, saúde e segurança dos policiais; fortalecer, com foco educativo, a importância da redução do comportamento de risco; fortalecer as boas práticas no cuidado com a saúde de todos os militares – praças e oficiais do BME.
Nesta época, o coronel Laércio ainda não era o chefe do CPO-E. Ele assumiu o cargo no dia 15 de julho, no lugar do coronel Marcos Assis Batista. Ou seja, a CI 215/2015 já se encontrava no CPO-E pouco mais de um mês antes da posse de Laércio na unidade.
O problema é que a CI ficou parada em alguma mesa na sede do CPO-E e não foi enviada para o Estado-Maior da PM, como deveria ter sido feito. Como o tenente-coronel Aguiar já havia planejado a adoção do programa, que se encontra funcionando no Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da PMES (Notaer) desde maio deste ano, o BME manteve o planejamento.
O tenente-coronel Aguiar se encontra há apenas 13 meses à frente do Batalhão de Missões Especiais, tempo em que realizou muitas ações na unidade. Por se tratar de uma unidade especializada, geralmente os comandantes do BME ficam no cargo por, no mínimo, dois anos. Foi o caso, por exemplo, do antecessor de Aguiar, o tenente-coronel Alexandre Ofranti Ramalho, que ficou no comando por dois anos e três meses.
Mudanças constantes em unidades especializadas causam problemas para a tropa, provocam desconforto entre os oficiais e criam um clima de incertezas e insegurança, sobretudo porque, em abril deste ano, o BME apresentou à sociedade capixaba seu Plano de Comando para os anos de 2015 e 2016. Trata-se de um documento que consolida os princípios e valores que estruturam a atuação do BME, principalmente, a preocupação com os recursos humanos e sua valorização.
O Batalhão de Missões Especiais tem uma parceria forte com a sociedade do Espírito Santo. Seu comandante, o tenente-coronel Aguiar, já havia planejado para começar na próxima segunda-feira (21/09) um programa de apoio à Apaes de Vitória, por meio de um programa de Cinoterapia – trata-se de uma abordagem terapêutica que tem como diferencial o uso de cães como co-terapeutas no tratamento físico, psíquico e emocional de pessoas com necessidades especiais.
Surgem, então, alguns questionamentos. Se o motivo alegado pelo novo chefe do CPO-E para mudar o Comando do BME não procede, porque a mudança? Vale ressaltar que o clima no BME está de velório, conforme destacou na coluna ‘Victor Hugo’ desta quarta-feira (16/09), de A Gazeta, o jornalista Leonel Ximenes, ao falar da mudança que pegou o sistema de Segurança Pública de surpresa.
Surpresa porque, ao longo de um ano e um mês à frente do BME, o tenente-coronel Aguiar foi um inovador. Ele implementou diversas políticas, como forma de valorizar e motivar a tropa, permitindo um aperfeiçoamento diário de seus oficiais e praças. São ações positivas como a adoção do Sistema de Gestão por Indicadores de Desempenho, implementação da Matriz Curricular na Parte de Instrução, a reforma do Quartel do BME – em andamento – e a reforma do Canil – já concluída –, pertencente à Companhia de Operações com Cães (COC).
Ficam duas perguntas básicas: será que o comandante-geral da PM, coronel Marcos Nascimento, e o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, não veem algo de estranho nessa mudança? Por que mudanças em setores vitais para a segurança não são de responsabilidade direta do Comandante-Geral da PM?
Ora, fica parecendo que, por trás dessa mudança sem fundamento, estariam questões pessoais.