O investigador de Polícia Civil Jânio Jacinto Araújo, que entrou na instituição no dia 30 de outubro de 1987, está aposentado desde agosto do ano passado. Entretanto, não abandona a luta da categoria. Jânio integra a diretoria do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol) do Estado do Espírito Santo, onde ocupa o cargo de secretário de Formação e Estudos Sindicais.
Jânio Araújo defende um sindicalismo moderno: “ Entendo que aquele sindicalismo de palanque, com ofensas e desrespeito, não cabe mais nos dias de hoje. Hoje precisamos de lideranças que trabalhem nos bastidores, com inteligência e projetos”, diz ele.
Nesta entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, Jânio Araújo relata momentos importantes que marcaram sua carreira de policial civil e presta uma homenagem aos colegas – delegados e demais policiais – com quem trabalhou ao longo de 27 anos.
Blog do Elimar Côrtes – Por quais unidades o senhor já passou?
– Jânio Jacinto Araújo – Minha primeira localização foi em Linhares, onde o doutor Aloir dos Santos foi meu primeiro delegado e Maria Léia a escrivã. Eles me receberam de braços abertos.
Em seguida trabalhei na antiga Delegacia Patrimonial, DPJ (Departamento de Polícia Judiciária) de Guarapari, DP de Furtos e Roubos de Veículos, Delegacias de Tóxicos e Entorpecentes, Costumes e Diversões, Polinter, Decap, extinto Presídio de Argolas, 20ª DP (Delegacia de Vila Velha) e, por último, estava à disposição do Sindipol (Sindicato dos Policiais Civis). Me aposentei em agosto de 2014.
– Como era sua rotina nas delegacias, principalmente na Patrimonial, onde ficou por mais tempo?
– Muito puxada, desgastante, mas muito compensador. Naquela época nossos recursos eram limitados, não tínhamos o recurso de interceptação telefônica, internet, site de buscas, armamento e nem viaturas como as de hoje. Nosso maior trunfo era a famosa campana e os informantes. Ficávamos por horas e horas vigiando, esperando o momento certo para dar o bote no suspeito. Éramos uma turma muito unida, em que o trabalho em grupo fazia a diferença. O que dava pra um, dava pra todos.
Sem medo de errar, posso citar alguns colegas investigadores com quem oi trabalho em grupo dava sempre resultado positivo: Antero, Avelino, Luis Carlos, Nininho, Zezé, Ronaldo Fernandes, Andorinha, Adami, Jorjão, Camargo, Caruso e os saudosos Roberval, João Bolinha, Ademir Chassi, o “Empenado”, e Fernando da Gata, dentre outros.
– É possível lembrar quantas investigações já realizou ao longo de toda sua carreira?
– Várias. Prendemos muitos assaltantes de bancos e de cargas, traficantes, homicidas e estelionatários.
– O senhor já encarou a morte de perto em tiroteios ou na hora de prender um criminoso?
– Sim. Uma vez, em Linhares, em uma abordagem de rotina, eu, Avelino, Jacksom e Barreto abordamos dois suspeitos no bairro Aviso. Para nossa surpresa, eram dois foragidos de alta periculosidade do Rio de Janeiro, que estavam armados. O primeiro bandido foi rendido por Avelino e Luis Carlos e o segundo fugiu em disparada, sendo seguido de carro por mim e Barreto.
Mais na frente, “Maurilhão”, como era conhecido e só ficamos sabendo disso mais tarde, após ser perseguido por nós, virou-se para trás e fez dois disparos que acertaram parabrisas, a borracha do carro, chegando no meu rosto já amortecidos, deixando apenas um hematoma e um pequeno inchaço no meu rosto. Mas graças Deus, na sequência conseguimos prender o criminoso.
– O senhor poderia relatar uma experiência que marcou essa sua vida profissional?
– Uma operação que marcou foi uma realizada pela Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Fomos até o Rio de Janeiro e recuperamos 11 veículos furtados no Espírito Santo. Foi uma operação comandada pelo delegado Aloir dos Santos.
– Como o senhor analisa a atuação da atual diretoria do Sindipol em prol de toda categoria de policiais civis?
– É uma diretoria atuante, competente e equilibrada. Entendo que aquele sindicalismo de palanque, com ofensas e desrespeito, não cabe mais nos dias de hoje. Hoje precisamos de lideranças que trabalhem nos bastidores, com inteligência, projetos e muitos contatos, deixando o radicalismo como última etapa, sempre esgotando todas as tentativas democráticas de negociação. Porém, se tiver que ir pro pau, confio no potencial dessa diretoria. Jorge Emílio, nosso secretário-geral, superou minha expectativa e se tornou hoje numa das nossas maiores lideranças sindicais.
– Como está a luta hoje da categoria na Polícia Civil?
– Quero registrar que temos hoje na Polícia Civil lideranças de causar inveja a qualquer outra categoria no Espírito Santo. São, sem dúvida, lideranças de extrema competência, que, quando conseguimos juntá-las na mesma luta, fomos imbatíveis. É uma pena que não conseguimos manter esta unidade.
Dentre as lideranças posso citar, sem medo de errar: Jorge Emilio, Aloisio Duboc, Humberto, Júlio, Airton e Joel pelo Sindipol; Juninho Fialho, Bierres, pela Assinpol; Tadeu Nicoletti pela APPES; Francisco pela Agenpol; Thomás, Clóvis e Selma pela AEPES; doutor Rodolfo Laterzae e o doutor Sérgio do Nascimento Lucas, pelo SINDEpes e ADEPOL; e outras como Camargo, Josemir, Alessandro D’a Vitória, Atila e meu grande consultor Stoco. Juntos, seríamos imbatíveis.
– Que delegados marcaram sua carreira de investigador?
– Meu primeiro delegado foi o doutor Aloir dos Santos, que, juntamente com a escrivã Maria Léia, me adotaram praticamente, me ensinando o dia a dia do policial civil.
Trabalhei também com o competente delegado Serjão (Sérgio do Nascimento Lucas), que comandou a Divisão de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio; e os delegados Coutinho, Heli, Julião (Júlio César Oliveira Silva), Baltazar, Mário Brocco e doutora Denise. Todos excelentes delegados, com os quais pude aprender um pouco com cada um deles.
A Polícia Civil tinha que ter um trabalho voltado para preparar o policial para aposentadoria. Eu me programei, me preparei e hoje, aposentado na Policia Civil, tenho meu próprio escritório de advocacia. Queria também citar o doutor Joel Lyrio Júnior, que foi meu último chefe de Policia e deu grande demonstração de competência e profissionalismo.