São 12 horas e 30 minutos em ponto. Lá está ele, todos os dias, na telinha da TV Record (TV Vitória), com o seu programa campeão de audiência, que revolucionou a televisão no Espírito Santo e mudou a linguagem e o comportamento de outras emissoras: Balanço Geral. Amaro Rocha Nascimento Neto, 38 anos, radialista e jornalista formado em Comunicação Social pela Faesa. Antes do tradicional “boa tarde”, Amaro Neto leva uma rotina inerente a de qualquer outro editor de TV: chega cedo à TV Vitória, no Centro da capital capixaba, se reúne com sua equipe, estuda a pauta, analisa o conteúdo do que vai ao ar, atende telefonemas de fontes e telespectadores e, faltando 15 minutos para o início do programa, se dirige ao estúdio, localizado no sétimo andar do prédio conhecido como “Moinho Buaiz” – a redação do Jornalismo fica no andar abaixo.
No caminho do sexto para o sétimo andar, que ele faz andando pelas escadas, sempre há fãs e cidadãos comuns que vão à sede da emissora em busca de ajuda: geralmente, para pedir a Amaro Neto que interceda junto às autoridades que melhorem as condições das vias de seus bairros; melhorem o policiamento e iluminação pública; pedem a visita do carro do fumacê, etc. Amaro Neto, antes de entrar no ar, sempre encontra tempo para uma foto ou autógrafo para fãs mais exigentes.
Aquele operador de áudio, de voz calma e tranquila, que iniciou a carreira na Rádio Tropical FM, passou pelo interior do Estado e fez de tudo na Rádio Espírito Santo, se transforma quando inicia o Balanço Geral, um programa policial e dono da maior audiência de TV no Espírito Santo.
Agora, aquele filho de uma professora da rede pública de ensino – a mãe de Amaro é educadora de crianças com idade até o pré-primário –, é uma celebridade da televisão. Porém, não esquece sua origem simples e humilde. Foi essa simplicidade, mas com foco no futuro, que o transformou no candidato mais votado nas eleições de outubro de 2014, conquistando uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, com 55.408 votos.
“Comecei em rádio em 1992, na Tropical. Em seguida, fui para Alfredo Chaves, onde trabalhei na Rádio Destaque, hoje Transamérica. Lá, aprendi muito. Em rádio eu praticamente já fiz tudo. Em 97, retornei para Vitória e ingressei na Rádio Espírito Santo, que é uma grande escola de rádio e de jornalismo. Fui operador de áudio, narrador de futebol, apresentador do Ronda Policial e até gerente de Jornalismo”, começa contando Amaro Neto, que iniciou a apresentação do Balanço Geral em 2009, após ser aprovado em um teste, na TV Vitória, a convite do amigo Rodrigo Roque.
No dia 1º de junho de 2009, então, Amaro Neto estreava no programa que “balança o Espírito Santo”. Fez tanto sucesso entre o público em geral – incluindo aí os operadores de segurança pública e do sistema de Justiça – que ultrapassou fronteiras. Sua fama chegou às Minas Gerais e, no dia 27 de setembro de 2012, já estava trabalhando na TV Bandeirantes de Belo Horizonte, com um programa policial. Ficou lá até 31 de maio de 2014, quando decidiu retornar ao Espírito Santo para se candidatar a deputado estadual.
Seu retorno às terras capixabas “desagradou” os operadores de segurança pública mineiros, que viam nele o porta-voz do combate à violência na televisão. Um major da Polícia Militar de Minas chegou até a ‘protestar’: “Amaro Neto deveria ser proibido voltar ao Espírito Santo. Aqui em Minas, ele ajuda as pessoas e a polícia de um modo em geral. Seu jeito extrovertido, porém sério nas críticas, conquistou os mineiros”.
Amaro Neto revela que, quando passou pela primeira vez na TV Record, não pensava em entrar para a política. Em Minas, decidiu que somente retornaria ao Espírito Santo se tivesse um meio de ajudar a população capixaba. Todavia, conversando com o jornalista e especialista em Marketing Político Jeferson Ferreira, seu colega de redação na Band de Belo Horizonte, se interessou pelo tema.
“O Jeferson Ferreira planejou minha campanha e eu só tive o trabalho de ir para as ruas pedir votos. Devo muito a ele”, reconhece Amaro, que, diferente da maioria dos políticos, sabe ser grato aos amigos.
Depois que foi eleito deputado estadual, Amaro Neto passou a conhecer melhor a Assembleia Legislativa. Percebeu que seus futuros colegas atuam de maneira independente, mas cada um preocupado com sua base, com seu reduto, o que deixa a Casa “fragilizada”. Fez essa descoberta graças à percepção de jornalista.
“A Assembleia Legislativa precisa se fortalecer como Parlamento. Esse fortalecimento se fará com a melhoria de sua comunicação junto à população. Precisamos levar o cidadão para dentro do Legislativo, para participar mais das sessões do Plenário; das audiências públicas e das reuniões das Comissões. O cidadão precisa visitar a biblioteca da Assembleia, assim como sua praça de alimentação”, diz Amaro Neto, que completa:
“Em outros estados, as Assembleias Legislativas discutem mais seu papel com a sociedade. Aqui, o povo somente vai à Assembleia em épocas de eleições ou quando há projetos polêmicos, como aumento de salário para deputados ou questões como pedágio da Terceira Ponte. Há muitos assuntos relevantes que podem e devem ser acompanhados mais pelas pessoas diariamente. A Casa é do povo. Portanto, precisamos aproximar mais a Assembleia da população”.
Credenciado como o deputado mais votado do Estado, Amaro Neto também colocou seu nome à disposição dos colegas para presidir a Assembleia Legislativa nos próximos dois anos. Ele integrava o bloco do qual fazem parte os deputados Josias Da Vitória, Sérgio Majeski e outros. Porém, por meio de um consenso, os deputados decidiram apoiar a reeleição do presidente Theodorico Ferraço: “Minha intenção é fortalecer a Casa e debater os assuntos de interesse do Estado, com independência”, ensina Amaro Neto.
Recentemente, ele foi ouvido pelo jornal A Gazeta. Foi indagado pela reportagem sobre quando vai conversar com o governador Paulo Hartung, que tomou posse no dia 1º de janeiro:
“Respondi: ‘Por que eu tenho que conversar com o governador?’. Paulo Hartung governou bem o Estado durante oito anos e conhece nossos problemas. Ele foi um excelente governador, mas um deputado precisa manter postura independente, assim como ele precisa administrar o Estado com autonomia que o povo lhe deu. O governador sabe que, quando enviar à Assembleia Legislativa um projeto que é de interesse do povo capixaba, terá meu apoio. Tem que ser cada um no seu espaço. O ex-governador Renato Casagrande, com quem eu e meu partido, o PPS, caminhamos na campanha, também sabia que, se fosse reeleito, e eu eleito para a Assembleia, iria agir dessa maneira”, respondeu Amaro Neto.
Ao assumir sua cadeira de deputado, a partir de fevereiro, Amaro Neto não pretende abandonar a televisão: “Muitas pessoas disseram que votariam em mim desde que eu continuasse com o Balanço Geral. Farei que nem outros colegas da Record de outros estados do País, que apresentam o mesmo programa e são deputados: vou continuar trabalhando na TV”, garante Amaro, que cita como exemplo Wagner Montes, que é deputado estadual no Rio de Janeiro e apresenta o Balanço Geral na Record/Rio. “No meu caso, o cidadão capixaba prefere me ver na TV, mas me deu voto de confiança pela necessidade de renovação na política”.
Mesmo em Belo Horizonte, Amaro acompanhava a política capixaba. Como tem dois amigos no PPS – os prefeitos Luciano Rezende e Juninho, de Vitória e Cariacica, respectivamente –, optou por esse partido para disputar a eleição. “Também sempre gostei do PPS por conta de seu passado, sua luta em favor do povo brasileiro”, ressalta o futuro deputado.
Amaro Neto quer ainda conhecer o funcionamento das 15 Comissões Permanentes da Assembleia, além das Temporárias e Frentes Parlamentares. Para ele, é fundamental que um parlamentar entenda o funcionamento do Legislativo como forma de contribuir para seu engrandecimento:
“Estou indo para entender como funciona a Casa de Leis e empreender meu trabalho. Numa perspectiva jornalística, vi que a Assembleia é afastada do povo. Por exemplo: a Assembleia aprovou a instalação de um Procon dentro da Casa, mas a lei não saiu do papel”, disse Amaro.
Engana-se quem apostava que ele chegaria à Assembleia apenas com o objetivo de ser mais um representante da segurança pública na Casa, que já conta com os deputados Josias Da Vitória (cabo da reserva da Polícia Militar), Gilsinho Lopes (delegado licenciado) e Euclério Sampaio (investigador aposentado). Amaro não é a favor de deputado representar apenas determinado seguimento:
“Fui eleito com os votos de todos os capixabas. Portanto, não vou ser um parlamentar só da segurança pública; preciso representar bem todos os seguimentos. Por isso, é fundamental que eu conheça as Comissões. Quero ajudar a fortalecer o legislativo capixaba, aproximar a Assembleia da população de meu Estado”, ensina Amaro Neto.