Um dia depois da apresentação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, criada há pouco mais de dois anos pelo governo federal para trazer à tona denúncias de tortura no período da ditadura militar, o coronel da reserva da Polícia Militar de Minas Gerais e escritor Klinger Sobreira de Almeida escreveu artigo para o Blog do Elimar Côrtes em que relembra o passado, fala do presente e aborda o futuro: “Na verdade, a clã dos insensatos, acolhida pelos ingênuos ou de má-fé, nos ofereceu um apoteótico espetáculo de cinismo, que a história guardará no baú dos dejetos”, diz o autor.
APOTEOSE DA RAZÃO CÍNICA
(Klinger Sobreira de Almeida*)
De um lado, jovens atraídos pelo proselitismo de revolucionários comunistas treinados, na maioria, em Cuba ou China, pegam em armas e, em tresloucadas ações, criam focos guerrilheiros urbanos e rurais, na tentativa ilusória de estabelecer uma situação caótica que ensejasse a implantação de uma ditadura modelo maoista, ou fidelista, ou stalinista. Assaltam, explodem bombas, sequestram e matam. Fanatizados ideologicamente, suas ações extrapolam limites.
Do lado institucional, as Forças Armadas, apoiadas pela nação, combatem até exterminar o poder dos insurgentes. Nessa luta sem quartel, há, de ambas as partes, atrocidades isoladas. Ao final, vencedores, os militares dão fim, em 1979, ao AI-5, instrumento que lhes deu respaldo para enfrentar a guerra suja imposta pelos comunistas e outros desviados ideológicos, e permitem o retorno e trânsito livre dos exilados, grande parte eleita para cargos executivos e legislativos em 1982. Ainda em 1979, por exigência pública e insistente dos vencidos, o Congresso Nacional concedeu anistia ampla, geral e irrestrita a todos os contendores.
Passaram-se os anos. A esquerda e os pseudo-arrependidos galgam o poder. Distorcem a história, distribuem benesses aos terroristas e guerrilheiros do ontem e querem esmagar os vencedores que, em 1979, foram magnânimos. Eles assoalham aos quatro ventos que pegaram em armas para derrubar a ditadura militar. Não! Não é verdade. Pegaram em armas, como a jovem Dilma Roussef, e todos intoxicados por ideologias exóticas, para impingir em nossa pátria o modelo da ditadura do proletariado. E o pior: os ingênuos, ou os jovens que não viveram os anos avoengos, acreditam, por força do massacre de uma mídia manipulada, na mentira repetida insidiosamente.
O tempo passou. Sem ditadura da direita ou da esquerda, ambas condenáveis e indesejáveis, a nação caminhou pelas décadas de 80 e 90, ingressando no século XXI em plena e vicejante democracia. Vivemos problemas terríveis – estagnação econômica a ameaçar conquistas sociais, corrupção vergonhosa e desenfreada que precisa ser erradicada – mas impõe-se que o Brasil, coeso e unido em ideal e esperança, siga em frente, num rumo ascensional, construindo no presente os alicerces do futuro. Porém um grupo de políticos e intelectuais – vencidos de ontem, mas magnânima e devidamente perdoados, ou seus herdeiros ideológicos – não enxerga o porvir, só olha pelo retrovisor, baba por uma vingança.
Ontem (quarta-feira), 10 de dezembro de 2014, assistimos essa ficção denominada Comissão da Verdade (uma comissão do engodo) entregar à Sra Dilma Roussef – Presidente da República – e antiga terrorista comunista (mas acolhida pela democracia, e perdoada!), um relatório infamante, que investe contra a memória de estadistas e cidadãos íntegros. Lemos, perplexos um relatório que, escrito por mentes sincopadas, pretende reescrever a história vista por lentes de trevas; pretende, num passe de ilusionismo, espancar qualquer sinal de luz do passado. São, como diria o poeta Drumond, se vivo fosse: Maniqueus cegos; onde há o mal enxergam o bem, e onde reside o bem, veem o mal. Além da pretensão de assassinato moral de cidadãos de bem, a falaciosa comissão extrapola e sugere destruir instituições como as Polícias Militares, algumas bisseculares, autênticas barreiras de proteção social e preservação de valores.
Diante de tanta falcatrua em relação à história, não podemos silenciar.
Na verdade, a clã dos insensatos, acolhida pelos ingênuos ou de má-fé, nos ofereceu um apoteótico espetáculo de cinismo, que a história guardará no baú dos dejetos.
(O autor, Klinger Sobreira de Almeida, é militar estadual da reserva, escritor, membro da Academia de Letras João Guimarães Rosa/PMMG)