Ele fez o inverso de muitos profissionais que seguem a carreira jurídica. Durante 17 anos, foi advogado. Mas a vocação de servir ao público o transformou em delegado de Polícia Civil do Espírito Santo, onde está desde 2007, depois de ser aprovado em concurso. Hoje, é o chefe da 17ª Regional da Polícia, com
sede em Nova Venécia e responsável pelas ações da Polícia Judiciária em mais oito municípios. Antes, passou pelas Delegacias de Pinheiros, São Mateus, Guarapari, Vitória, Santa Maria de Jetibá. Trata-se do delegado e escritor e professor universitário Líbero Penello de Carvalho Filho, que, em entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, revela como é a parceria da Polícia Civil com a Polícia Militar, Ministério Público Estadual, a Justiça e a população da região Norte do Estado.
É uma integração que está dando certo: reduziu o número de homicídio em 30% nos cinco primeiros meses deste ano. O que contribuiu para essa redução? “É óbvio que a retirada de circulação dos maiores e menores de idade responsáveis pelos crimes levou a este resultado. Além do óbvio, porém, posso dizer que as instituições são feitas de pessoas. Unindo as pessoas, unimos as instituições. Somente a partir do momento em que as instituições (Polícia Civil, PM, Ministério Público, Judiciário) regionais passaram a falar o mesmo idioma, é que se viram os resultados aparecerem. E todos saem ganhando”, explica o delegado.
Blog do Elimar Côrtes – Qual era sua profissão antes de abraçar a carreira de delegado de Polícia?
Líbero Penello de Carvalho Filho - Era advogado. Advoguei por 17 anos antes de me tornar Delegado. Quando entrei para o serviço público, chamaram-me de louco, afinal estava mudando radicalmente meu estilo de vida. O que as pessoas não entendiam é que eu buscava algo mais além de dinheiro, status. Eu buscava fazer algo de útil para um maior número de pessoas. Agora, que minha mentalidade de iniciativa privada demorou a ceder lugar para a mentalidade da iniciativa pública, isto demorou.
– Fale de suas obras literárias?
– Houve um tempo em que eu me ocupava em fazer parte de institutos e organizações acadêmicas, dar aulas, escrever mil artigos que foram publicados no Brasil todo, três livros. Até que percebi que isto só estava agradando ao meu ego: eu me envaidecia com o reconhecimento de meu nome, mas me esquecia de trabalhar para quem precisava de mim. Passei a não mais crer no conhecimento como bem sujeito à mercância, retirei os livros de circulação, e entrei numa etapa de vida mais concentrada na típica ação do Delegado de Polícia.
– Hoje o senhor comanda que Unidade da Polícia Civil? Ela é responsável por quantos municípios no Norte do Estado?
– Hoje comando a 17ª Regional, a qual, juntamente com o 2º Batalhão de Polícia Militar (Nova Venécia), compõe a AISP 2 (Área Integrada de Segurança Pública), abrangendo os municípios de Nova Venécia, a sede da Regional, Vila Pavão, São Gabriel da Palha, Vila Valério, Boa Esperança, Pinheiros, Montanha, Mucurici e Ponto Belo.
– Como é a divisão de tarefa entre a Polícia Civil e PM na região?
– Não há divisão de tarefa. Todos fazemos tudo. No cotidiano, inclusive, saem em levantamentos e diligências, num mesmo veículo, por exemplo, investigadores e P2 (agentes do Serviço Reservado da Polícia Miliar). Frequento o quartel do 2º BPM assim como a P2 frequenta a Delegacia. Com isto, ganhamos tempo e ficamos fortes. O mais interessante é que, a partir do momento em que os comandantes da área (eu e o tenente coronel Rogério Maciel Barcelos) estamos cientes e legitimamos ações que por si só já estão dentro da legalidade, considerando a urgência, o interesse público e a repercussão social, tudo se desenvolve num ambiente harmônico.
– Os senhores se reúnem em que período?
– Uma vez por mês, fazemos nossa reunião da AISP 2, no 2º BPM, com a presença dos comandantes da região, dos responsáveis pela Polícia Civil e Militar de cada cidade, e ali fazemos um balanço de nossas ações e resultados, além de traçar metas e novas ações regionalizadas.
Também são rotineiras as reuniões do Gabinete de Gestão Integrada de Segurança de cada município, com a presença de todos aqueles comprometidos com a segurança local: juiz, promotor, polícia, bombeiros, defesa civil, representantes de diversas instituições. Estas reuniões são presididas pelos prefeitos de cada cidade.
– Qual é o índice de redução de homicídios, crimes contra o patrimônio e outros delitos na região?
– Só posso responder pela AISP 2. Até o dia de hoje (quarta-feira, dia 4 dejunho), desde 1º de janeiro deste ano, tivemos uma redução nos homicídios da ordem de mais de 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Para exemplificar, foram 13 homicídios em abril de 2013 e sete homicídios em maio de 2013, contra dois homicídios em abril deste ano e um homicídio em maio deste ano. Pinheiros, conhecida por sua alta taxa de projeção de homicídios, a maior do Estado, há 133 dias não sabe o que é homicídio. O mesmo ocorre com os indicadores de furtos e roubos, que também diminuíram, mas é claro que ainda há o que ser feito.
– O que foi feito para a redução?
– É óbvio que a retirada de circulação dos maiores e menores de idade responsáveis pelos crimes levou a este resultado. Além do óbvio, porém, posso dizer que as instituições são feitas de pessoas. Unindo as pessoas, unimos as instituições. Somente a partir do momento em que as instituições (Polícia Civil, PM, Ministério Público, Judiciário) regionais passaram a falar o mesmo idioma, é que se viram os resultados aparecerem. E todos saem ganhando. Além do beneficiário maior, que é a população, aqueles que também gerem estas instituições veem o benefício para si, na forma da satisfação pessoal do dever cumprido, da gratidão do povo. Apesar dos críticos de plantão, que ficam reclamando, mas não ajudam em nada, o fato é que o que está havendo aqui nesta região é a aplicação, na medida do nosso possível, do programa Estado Presente, nada mais.
A razão dos resultados está intimamente ligada ao fato de que um dia nós nos questionamos o seguinte: se colocarmos em um prato da balança nossas vaidades, nossos salários, nossas prerrogativas, nossas reclamações e queixas, nossas diferenças, e, no outro prato colocarmos as 200.000 vidas e famílias que dependem de nossa boa vontade, qual lado pesará mais? Acho que nem é preciso dizer o que pesou mais para nós.