O medo está rondando funcionários da Petrobras e de empreiteiras que trabalham na Plataforma P-58. A plataforma entrou em operação no dia 17 de março deste ano e está instalada no complexo denominado Parque das Baleias, na porção capixaba da Bacia de Campos. A P-58 se encontra a cerca de 85 quilômetros da costa do Espírito Santo – mais ao Sul de Vitória –, em águas com profundidade de 1.400 metros. O perigo é que o campo de Baleia Azul, onde está fundeada a P-58, contém gás h2s (Sulfeto de hidrogênio), que é altamente letal quando concentrado numa proporção acima de 700 ppm (partes por milhão; unidade de concentração.)
O medo veio à tona na noite de sexta-feira (11/04). Logo depois de ler no Blog do Elimar Côrtes reportagem com o delegado Júlio César de Souza Moreira, chefe da Delegacia Especializada de Acidente de Trabalho da Polícia Civil do Espírito Santo, um funcionário da Petrobras enviou email para o blog.
No email, ele indaga se poderia tecer, em off, comentários sobre o que está ocorrendo na P-58, que, segundo o funcionário, teria sido construída “à toque de caixa pela Petrobras para que pudesse ser inaugurada em tempo recorde” pela presidente Dilma Rousseff (PT). Por isso, salienta, “vários problemas técnicos vêm surgindo a cada dia na plataforma.”
Com a garantia do anonimato, o funcionário começou a relatar o medo dele e dos demais trabalhadores da estatal e de outras empresas que prestam serviços à Petrobras na P-58. Ele falou, de início, do gás h2s. Revelou que o gás é” altamente letal quando concentrado numa proporção acima de 700 ppm.” E destacou: “Quando o gás é exposto a essa concentração, o olfato humano é simplesmente cortado, dando a impressão de que não há vazamento de gás. Entre um a dois minutos, o homem vai a óbito.”
O funcionário da Petrobras disse mais: “O h2s é apenas um gás que existe na formação no campo de pré sal. Durante o processo de produção, ele é queimado através do flare. Porém, outros gases são produzidos e enviados para gasodutos como, por exemplo, o gás natural que contém etano, butano e metano. São milhões de metros cúbicos de gás produzidos por dia. O perigo existe e é real. Faz parte do processo.”
Mais adiante, o funcionário afirma: “O que está acontecendo é que a plataforma veio para o campo antes de concluída a sua obra, o que gera uma insegurança entre os residentes (trabalhadores) da unidade, pois a todo momento aparecem problemas envolvendo o processo de produção de petróleo ou gás. Consequentemente, coloca em xeque todo o sistema de segurança da plataforma.”
O efetivo atual da P-58 é de 120 pessoas. Como a plataforma está em obras, existe um efetivo muito maior na embarcação. Por isso, os trabalhadores têm que usar outra plataforma para ficar como “plataforma flotel ou hotel.” Surge, aí, outro problema, segundo o funcionário:
“O problema é que a relação de salvatagem é de um por um e meio. Ou seja, se a plataforma tem o cartão de lotação para 100 pessoas, a relação de salvatagem é de 150 vagas de salvatagem, que são os meios (baleeiras e balsas) que os residentes têm para usarem em caso de acidente. Neste caso, eles usam os meios para abandonar a plataforma. Todos os dias, os trabalhadores em excesso fazem o transporte aéreo da plataforma flotel para a P-58 e no fim do dia são levados de volta para o flotel. O correto seria as duas plataformas estarem interligadas via gangwai ou uma ponte, pois em caso de sinistro, os trabalhadores teriam uma rota de fuga eficiente e segura”, ensina o engenheiro.
(Obs: Salvatagem é o nome dado ao conjunto de equipamento e medidas de resgate e manutenção da vida no pós desastre marítimo. Exemplo: a boia de emergência de num navio é material de salvatagem.)
O funcionário da Petrobras deixa claro, entretanto, que não houve qualquer tipo de vazamento de gás. “Não houve vazamento de h2s, mas o campo de baleia azul tem h2s. Para haver um uma explosão com gás em uma plataforma seria necessária uma concentração numa área fechada ou em um ambiente confinado com alguma fonte de start do tipo fagulha, acionamento do ptt de um rádio, fonte quente, etc.”
Em futura postagem, funcionário da Petrobras vai relembrar como foi acidente que ele presenciou, em plataforma fundeada na Bacia de Campos, que matou 11 pessoas há 13 anos.
Fiscalização da Marinha constata “deficiências”
Em nota enviada ao Blog do Elimar Côrtes, a Marinha do Brasil informa que a Plataforma P-58 foi inspecionada por inspetores navais da Capitania dos Portos do Espírito Santo nos dias 10 e 13 de março e 14 de abril. E, de acordo com as Normas da Autoridade Marítima, foram constatadas deficiências, não impeditivas, em relação a segurança da navegação da embarcação. A plataforma tem o prazo de retificação até o dia 15 de maio.
“Por oportuno, esclarece que questões de operações da plataforma são motivos de inspeção de outros órgãos”, encerra a nota.
De imediato, o Blog do Elimar Côrtes enviou outra mensagem à Assessoria de Imprensa da Capitania dos Portos, indagando se “é possível a Marinha descer a detalhes nas “deficiências encontradas”. Indagou ainda “que deficiências são essas e se elas podem provocar algum risco de acidente”. Até o fechamento desta edição não recebeu resposta.
Plataforma P-58 entrou em operação no Parque das Baleias há menos de um mês
A Petrobras informa que em seu site que a plataforma de produção P-58, conforme previsto no seu Plano de Negócios e Gestão 2014-2018, entrou em operação no dia 17 d emarço deste ano, no complexo denominado Parque das Baleias, na porção capixaba da Bacia de Campos, através do poço 7-BFR-7-ESS, produtor de reservatório pré-sal, que apresentou excelente produtividade.
De acordo com a empresa, a P-58 é parte integrante do projeto Norte de Parque das Baleias, que compreende a produção dos campos de Baleia Franca, Cachalote, Jubarte, Baleia Azul e Baleia Anã.
A P-58 está instalada a cerca de 85 quilômetros da costa do Espírito Santo, em águas com profundidade de 1.400 metros. A ela serão interligados, nos próximos meses, 15 poços produtores, dos quais oito do pré-sal e sete do pós-sal, e nove poços injetores, por meio de 250 km de dutos flexíveis e dois manifolds submarinos (equipamentos que transferem o óleo dos poços para a plataforma).
Ainda segundo a Petrobras, do tipo FPSO (unidade que produz, armazena e transfere petróleo, na sigla em inglês), a unidade tem capacidade para processar diariamente até 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás natural.
A exportação de óleo da plataforma será realizada por meio de navios aliviadores e o escoamento de gás natural por gasoduto até a Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas, localizada no município de Linhares, no Espírito Santo. A obra gerou cerca de 4.500 empregos diretos, 13.500 indiretos, e alcançou 64% de índice de conteúdo nacional.
A construção dos módulos de processamento de óleo e compressão de gás da plataforma foi feita no Rio de Janeiro. Estes módulos foram transportados para o estaleiro Honório Bicalho, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde ocorreu a construção dos módulos de painéis elétricos e de geração principal de energia, bem como a integração de todos os módulos no casco da plataforma.
Ainda conforme previsto no Plano de Negócios e Gestão 2014-2018 da Petrobras, três novas plataformas entrarão em operação no segundo trimestre de 2014. Em Roncador, na Bacia de Campos, a plataforma P-62 irá desenvolver o campo em conjunto com as plataformas P-52, P-54 e P-55. Esta última entrou em produção em dezembro de 2013.
No campo de Papa Terra, entrarão em operação a P-61 e a plataforma semissubmersível de apoio à perfuração de poços SS-88 TAD (Tender Assisted Drilling). Essas unidades desenvolverão a produção de Papa-Terra em conjunto com a P-63, que entrou em produção em novembro de 2013.
Dados da P-58:
Capacidade de processamento de óleo: 180 mil barris/dia;
Capacidade de tratamento e compressão de gás: 6 milhões m3 /dia;
Conteúdo local: 64%;
Capacidade de tratamento de água de injeção: 58 mil m³/dia;
Capacidade de geração elétrica: 100 MW;
Profundidade de água: 1.400 m;
Acomodações: 110 pessoas;
Peso total da plataforma: 63.300 toneladas.
Fonte dos Dados da P-58: Site da Petrobras