Confesso que não sou muito adepto a shoppings. Acho os passeios muito chatos. Neste sábado (30/11), porém, não resisti ao convite de minha esposa e decidi acompanhá-la, junto com meu filho de 12 anos, ao Shopping Vitória, na Enseada do Suá, para ver o filme “Crô” – muito divertido, diga-se de passagem. Não sabia, entretanto, que, após a boa comédia, iria assistir a cenas de terror dentro do próprio shopping.
Eram quase 19 horas quando decidi, após tomar um choppe, sair do restaurante Riviera e ir ao Girafas comprar o lanche da filha que ficara em casa. Ao me aproximar do balcão para pedir o lanche, eis que surge o primeiro de uma série de tumultos: correria, barulho de dois tiros vindo do primeiro piso do shopping; pessoas se jogando no chão; outras sendo empurradas; crianças chorando; mulheres desmaiando; seguranças desorientados correndo para todos o cantos do segundo piso do Shopping Vitória.
Amedrontados, funcionários dos restaurantes e lanchonetes da Praça de Alimentação – onde eu estava – fecharam as portas dos estabelecimentos – nenhum cliente entrava e nem saía. Pessoas que pagaram por bebidas, lanches e refeição ficaram no prejuízo: abandonaram tudo nas mesas e balcões.
Um cidadão, de bermuda e camiseta, passou correndo por mim com uma pistola na mão – poderia ser um policial em seu dia de folga e passeio? Não deu tempo de perguntar. À frente dele, um soldado com uniforme do Corpo de Bombeiros também correu em direção a um dos restaurantes, onde um grupo estava escondido.
Esta introdução é para chegar a outra conclusão: noite de terror e pânico dentro do maior shopping do Espírito Santo por culpa exclusiva do Poder Público. Há meses, jovens armados e drogados vêm promovendo bailes funks embaixo da Terceira Ponte e o píer que fica atrás do Shopping Vitória. A Prefeitura Municipal de Vitória, que deveria coibir esse tipo de irregularidade, nada faz: seus gestores fecharam os olhos e permitiram que os jovens usassem uma via pública para fazer baile, onde são vendidos livremente bebidas e drogas.
Quando a municipalidade falha, sobra para a Polícia Militar. Entre os jovens armados e drogados que frequentam o baile funk próximo ao shopping estão, em sua maioria, menores de 18 anos. Antes do baile começar – geralmente após às 17 horas –, os funkeiros dão um passeio pelo shopping.
A confusão deste sábado, diferente da informação oficial do governo – de que teria começado após a Polícia Militar abordar alguns jovens no baile funk –, se deu após confusão e pancadaria entres os próprios funkeiros. A PM foi para o local tentar apaziguar os ânimos.
A Polícia Militar já havia tomado conhecimento de que haveria o baile funk e, de forma preventiva, já estava próximo à região. A confusão começou independente da abordagem da polícia. Durante pancadaria entre os funkeiros, muitos deles, em bando, correram em direção ao shopping e conseguiram ter acesso ao primeiro e ao segundo pisos. Não foram impedidos de entrar pelos seguranças do estabelecimento.
A PM foi para o local do baile funk para tentar acabar com a pancadaria promovida pelo frequentadores. Teve mais correria, porque os funkeiros não queriam ser presos e mais um grupo fugiu para o shopping. Diante o desespero dos seguranças do shopping, a PM foi obrigada a entrar no local e prender alguns dos suspeitos.
Antes da Polícia Militar adentrar ao shopping, milhares de pessoas estavam deitadas no chão e debaixo das mesas com medo dos baderneiros que corriam em bando para se esconder. Todos, todavia, se levantaram quando a PM já estava no primeiro e segundo pisos do shopping. Pelo que vi, a PM havia prendido mais de 30 funkeiros até as 19h30.
O despreparo dos seguranças do shopping e de sua direção para lidar com certas situações me impressionou. Quando vejo aqueles homens com quase dois metros de altura, de paletó preto, rádio de comunicação nas mãos e em vários locais do shopping, penso que estou num ambiente onde haverá de fato sensação de segurança e controle emocional em caso de pânico.
Nada disso. Pelo contrário. Desorientados, os seguranças – a mando sei lá de quem – fecharam as portas do shopping talvez preocupados em evitar que e, caso de roubo, os criminosos fugissem com produtos das lojas. Preocupados, assim, mais com o patrimônio do que com as pessoas.
Parece que não aprenderam nada com o episódio da boate Kiss, no Rio Grande do Sul, em que, mesmo diante um incêndio, os seguranças fecharam a porta do local e não deixaram ninguém sair: o que se viu foi a morte de centenas de pessoas.
Os seguranças do shopping sabiam, no momento em que trancaram as portas do local e impediram a saída das pessoas que estavam em pânico e em desespero, que do lado de fora a Polícia Militar fazia um grande cerco. Somente abriram as portas com a gritaria de mães, pais e jovens que queriam deixar logo o local.
Quando um bando de mais de 30 funkeiros foi preso pela Polícia Militar dentro do shopping, saindo em fila indiana e com as mãos dadas uns com os outros, a população aplaudiu a ação policial e vaiou os delinquentes.
Do lado de fora do shopping, mais de 20 viaturas da PM cercavam o local para garantir a segurança das pessoas que queriam deixar o estabelecimento comercial.
Mais uma vez, portanto, está de parabéns a Polícia Militar, que conseguiu prender um grupo de funkeiros dentro do maior shopping do Estado.
Nota zero para a Prefeitura de Vitória que não consegue impedir a realização de festas e bailes funks ao ar livre sem autorização do Município. O Poder Público deveria levar em conta os impostos que o Shopping Vitória e pessoas que frequentam o estabelecimento deixam para o Município.
Será que os gestores da Prefeitura conseguem imaginar que estamos em pleno mês de Natal? É justo o cidadão de bem sair de casa para ir às compras em pleno sábado e ter que conviver com funkeiros promovendo pânico e correria dentro do maior shopping center do Estado?