O titular da Delegacia de Delitos de Trânsito da Polícia Civil capixaba, Fabiano Contarato, é um homem de bem e do bem. É uma das autoridades policiais mais respeitadas do Brasil. Tem, como qualquer cidadão que vive numa democracia – como a nossa –, direito de disputar um cargo político. Todavia, sua decisão de se filiar ao Partido Republicano (PR), do senador Magno Malta, decepcionou muita gente.
Há algum tempo atrás – não mais do que dois meses –, Fabiano Contarato deu entrevista ao jornal A Tribuna em que, depois de muita insistência da repórter, declarou que, se fosse para o bem da sociedade, ele entraria na política. O jornal retratou as declarações do delegado com um título forte, afirmando que ele admitia disputar um cargo político.
Fabiano Contarato não gostou do título e negou, pela redes sociais, a informação do jornal. Desmentiu o título, mas confirmou as declarações. Continuou insistindo que somente entraria na política “para o bem da sociedade” – alegação da maioria dos políticos.
Eis que, depois de ter sido chamado cordialmente para conversar com a maior liderança política do Estado, o governador Renato Casagrande, Fabiano Contarato saiu espinafrando, afirmando que estaria sendo pressionado pelo governador, que é do PSB (um dos mais éticos e importantes partidos do País), a disputar uma vaga à Câmara Federal. Criticou também o chefe de Polícia Civil, delegado Joel Lyrio Júnior, dizendo que seu superior o pressionava para entrar num partido da base aliada do governo. Joel Lyrio desmentiu seu subordinado.
Ninguém imaginaria que, devido ao seu perfil sério e respeitoso, sempre brigando em favor da Justiça e contra os marginais que cometem crimes no trânsito, Contarato fosse escolher o mais fácil: entrar no PR, um dos partidos mais conservadores do Brasil, para disputar uma vaga no Senado Federal.
O delegado tem todo direito, mas, mesmo sem “experiência política”, demonstrou ser, de fato, uma velha raposa. Uma pena, pois a sociedade imaginava que Fabiano Contarato fosse uma pessoa de ideia mais avançada, moderno e sem pragmatismo.
Se Fabiano Contarato conquistar a única vaga para o Senado na eleição de 2014 pelo Espírito Santo – os dois outros senadores são Magno Malta e Ricardo Ferraço –, o Espírito Santo perderá um de seus melhores delegados de Polícia Civil; se ele vencer, o País vai ter um senador que terá de obedecer as regras de seu partido e do todo poderoso do PR, o senador Magno Malta. Quem perderá é a sociedade brasileira.
O outro lado
O delegado Fabiano Contarato comentou, pela primeira vez, a sua filiação ao PR por meio das redes sociais. Pelo Facebook, Contarato afirma que não será “fantoche” de partido político, e que não abrirá mão das suas convicções.
Confira o depoimento na íntegra
“Amigos,
Em consideração a vocês que estão pedindo uma manifestação sobre minha filiação ao Partido Republicano (PR), no momento, o que posso dizer é que por questões ideológicas jamais abriria mão do que eu acredito para ser aceito em um partido A ou B. Sou uma pessoa de opinião própria, e não cedo minhas convicções e minha ética para ser aceito em um determinado partido. Quem me conhece e acompanha o meu trabalho há 21 anos, sabe que não me intimido. Já fui retirado da Delegacia de Delitos de Trânsito por dizer o que eu penso da segurança no trânsito em nosso Estado, também por conta da minha postura, mesmo passando no primeiro concurso para delegado do Espírito Santo, alcançando o primeiro lugar geral na USP, apesar da minha colocação e de toda dedicação nunca tive o reconhecimento do meu trabalho pelo poder público, só consegui com muita luta receber uma promoção em agosto, depois de 21 anos de trabalho. O motivo? Nunca tive discurso alinhado com ninguém, nos casos que investigo faço valer a Constituição “Todos são iguais perante a Lei”, e com essa atitude você acaba não agradando uma camada social política e economicamente mais favorecida.
Portanto, não poderia me filiar a um partido que vai contra a minha moral e ética. Recusei-me (e não me sujeitarei) a ser um fantoche, pois jamais vou abrir mão do que acredito por conveniências ou interesses pessoais. Por estas e outras questões escolhi o Partido Republicano, pois foi o único partido que meu deu a opção de fazer minhas próprias escolhas. Enfim, para fazer uma escolha e tomar uma decisão é preciso ter a ousadia de ser você mesmo.”