O ano era 1976. O Brasil vivia sob a ditadura militar, iniciada em 1964 com o golpe que derrubou o presidente João Goulart. A população brasileira enfrentava dificuldades financeiras; as famílias tinham que colocar seus filhos, ainda crianças, para trabalhar e, ao mesmo tempo (se conseguissem), estudar.
Todos os dias, às 4 horas da manhã, eu acordava. Tinha ainda 13 anos de idade. Saía cedo de casa, um barraco próximo ao mangue de Jardim Marilândia, em Vila Velha, pegava ônibus na ainda Rodovia Carlos Lindenberg – mais tarde transformada em avenida – para ir ao Mercado da Vila Rubim, onde trabalhava até as 19 horas.
Saía do mercado e ia para a escola, o antigo Colégio Comercial Brasil, em Cobilândia, também Vila Velha. Era uma escola particular, que eu pagava com o dinheiro que recebia semanalmente como vendedor no mercado. Já estava na antiga sétima série do então segundo grau. Confesso que dormia em todas as aulas. Sempre, porém, havia colegas pré-adolescentes que nem eu ou mesmo adolescentes que ficavam com pena de mim e me davam “cola” nas provas.
Até que um dia, eu mesmo, consegui ver toda a prova já previamente elaborada pelo professor de Português e decorei as perguntas e respostas. Passei, é claro, para toda a turma. Enfim, todos fomos aprovados no primeiro semestre. Terminei os primeiros seis meses de aula como o pequeno grande herói.
O Mercado da Vila Rubim continuou em minha vida durante todo o ano de 1976, dois anos depois que a Seleção Brasileira havia sido eliminada da Copa do Mundo da Alemanha pela Laranja Mecânica, a Holanda, e dois anos antes que a mesma Seleção foi eliminada da Copa da Argentina, mas se sagrando “campeã moral” – não sofreu nenhuma derrota.
Trabalhei numa banca de verduras no Mercado da Vila Rubim. Não aprendi a ser comerciante. Foi ali, todavia, que comecei a gostar do Jornalismo. Naquela época o Estado brasileiro não se preocupava muito com a saúde da população. Frutas e verduras eram embrulhados em papel comum e, pasmem, até mesmo em jornais. Vigilância sanitária era um palavrão. Até carnes nos açougues do mercado eram embrulhadas em papel.
Meu patrão comprava, então, jornais antigos, como velhos exemplares de A Gazeta e A Tribuna e, mais importante, do antigo Jornal do Brasil. Foi lendo, sobretudo, velhas páginas do JB que passei a amar a minha profissão. Lia textos formidáveis, reportagens antigas, porque os jornais que comprávamos eram sempre do ano anterior. Foi lendo o velho JB que aprendi o que até hoje as autoridades policiais chamam de “Síndrome de Estocolmo”.
Agradeço, portanto, ao velho Mercado da Vila Rubim pelo fato de ter escolhido o Jornalismo como minha profissão. Foi lá que vi muitos moleques furtando na mão boba – tomando carteira de transeuntes, sem que a vítima percebesse –, vendendo pequenas buchas de maconha até mesmo na cara da polícia. Era a pura malandragem, sem violência física de hoje, sem a praga do crack, sem mortes.
Foi também no Mercado da Vila Rubim que comecei a gostar do rádio – o Radialismo, aliás, é minha outra profissão. Todos os dias um cidadão chamado Paulo César, que mais tarde ficou conhecido como “Papagaio de Pirata”, ia com seu gravador enorme colher depoimentos de frequentadores do mercado para levar ao programa Patrulha Volante, da Rádio Capixaba. Ficava ligado no trabalho do Paulo César e, quando chegava em casa, ligava o rádio de meu pai para ouvir a Rádio Globo e as transmissões esportivas.
Foi graças a esse aprendizado que, em 1983, dei o pontapé inicial como repórter esportivo na Rádio Capixaba, com o saudoso Ângelo Ribeiro e com o apoio do diretor da emissora, Marcos Borges, irmão do deputado estadual Sérgio Borges e filho do ex-deputado Hugo Borges, um dos mais importantes políticos da história do Espírito Santo.
O Mercado da Vila Rubim é, enfim, local de vida. Também de mortes, como a tragédia ocorrida em 1994, quando fogos de artifícios explodiram dentro de uma loja, matando quatro pessoas. Local também de injustiças, porque o dono dessa loja até hoje está impune, graças a um acordo entre o advogado – um dos mais renomados do Estado e do País – e o delegado que investigou o caso.
O Mercado da Vila Rubim, porém, vai ser sempre sinônimo de vida. Graças a uma parceria do governo do Estado, Poder Judiciário capixaba e Prefeitura Municipal de Vitória o Fórum da Comarca de Vitória vai ser construído entre o mercado e a Rodoviária. Uma das notícias mais espetaculares que o capixaba recebe neste aniversário da Cidade Sol, com seus 462 anos de emancipação política – porque, de vida, Vitória existe há milhões de anos com seus antigos habitantes.
Vale destacar que o futuro fórum vai abrigar as atuais 52 unidades judiciárias de Vitória e ficará numa área aproximada de 30 mil metros quadrados. Será construída ao lado da Ponte Florentino Avidos (Ponte Seca), ocupando a área até onde, atualmente, é uma área arborizada em frente à Rodoviária da Ilha do Príncipe.
Irrequieto,o governador Renato Casagrande, que anunciou a construção do novo Fórum de Vitória ao lado do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, e do prefeito Luciano Rezende, vai mais além: vai reformar e ampliar toda a entrada Sul da capital, com a construção de um viaduto que ligará a Segunda Ponte ao Porto de Vitória.
Melhorias no trânsito entre a Segunda Ponte e demais áreas do Centro também vão acontecer como reflexo da revitalização da região. Casagrande vai construir um terminal rodoviário anexo ao futuro fórum.
Por trás da brilhante ideia de levar para a Vila Rubim o Fórum de Vitória estão dois magistrados que pensam não só no futuro, mas, sobretudo, no bem estar da coletividade: o próprio presidente do Judiciário capixaba, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, e o juiz Marcelo Menezes Loureiro, titular da Vara de Central de Inquéritos Criminais e atual diretor do Foro da Comarca da Capital: são as autoridades que governam Vitória e o Estado e os que administram o Judiciário capixaba pensando nas futuras gerações.