Agentes federais, peritos, escrivães e demais servidores – com exceção, talvez, dos delegados – da Polícia Federal no Espírito Santo, que prometem aderir à greve nacional da categoria na próxima semana, vão entregar suas armas e distintivos à Superintendência Regional da PF no Estado enquanto durar a paralisação.
A informação foi dada nesta quinta-feira (02/08) ao Blog do Elimar Côrtes pelo presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Estado, Marcus Firme. A greve no Espírito Santo foi decidida no dia 11 de julho, quando a categoria realizou assembleia geral.
Entre as reivindicações dos policiais que levaram à aprovação da greve estão a demissão do atual diretor geral da PF, delegado Leandro Daiello, e a reestruturação salarial e da carreira.
O Blog do Elimar Côrtes informou, em primeira mão no domingo (29/07), a decisão da Federação dos Policias Federais (Fenafep) de pedir a demissão do diretor geral, além de destrinchar todos os motivos da crise na PF e revelar denúncias da entidade: nos últimos 18 meses, 12 agentes federais foram mortos no Brasil (10 foram assassinados e dois cometeram suicídio). A imprensa nacional entrou no assunto somente na quarta-feira (01/08).
Neste momento, há uma crise dentro da PF, envolvendo agentes, peritos e escrivães, de um lado; e, do outro, delegados. Os primeiros servidores acusam o diretor geral da instituição, Leandro Daiello, de promover melhorias somente para os delegados.
“Quando iniciamos negociações com o diretor geral – delegado Leandro Daiello –, ele nos garantiu que, se houvesse consenso entre todas as categorias, ele levaria nossas propostas ao governo. Passado algum tempo, os delegados quebraram o pacto, e o diretor geral engavetou nossos pleitos. O doutor Leandro Daiello não tem compromisso com toda a categoria de policiais federais; o compromisso dele é só com os delegados”, disse Marcus Firme.
Nesta sexta-feira (03/08) acontecerá uma nova assembleia dos policiais federais lotados no Espírito Santo, a partir das 13h30. Já está decidido, entretanto, que todos os profissionais que aderirem à paralisação vão entregar suas armas e distintivos, que são os símbolos da Polícia, como forma de garantir à sociedade e ao governo federal que a greve vai ser pacífica:
“Nós, agentes federais e demais servidores da Polícia Federal, jamais fizemos uma paralisação com característica de violência. Sempre nos pautamos na legalidade, agindo dentro da lei. Por isso, como forma de demonstrar cidadania e de dar mais uma garantia de que a greve será pacífica, entregaremos nossos símbolos de trabalho, que são nossa arma e distintivos”, informou Marcus Firme.
A preocupação do dirigente sindical é em relação ao julgamento do mensalão, iniciado nesta quinta-feira (02/08) no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com Marcus Firme, vários agentes e peritos da Polícia Federal participaram das investigações que estão colocando no banco dos réus as principais cabeças do Partido dos Trabalhadores, que durante parte do governo Lula teriam protagonizado um dos maiores escândalos de corrupção no Brasil:
“É preocupante porque os policiais que investigaram as denúncias de corrupção agora estão em greve. Mas podemos garantir à sociedade que a greve que faremos não tem conotação política e nem é uma chantagem. Apenas lutamos por nossos direitos. Tanto é verdade o que estou dizendo que havia uma proposta de pararmos durante a Rio + 20, mas não concordamos. Cumprimos nossa missão institucional naquele evento e decidimos parar somente agora. O governo federal, que havia nos pedido um prazo até março para atender nossas reivindicações, adiou esse prazo para 31 de julho. E mais uma vez deixou de cumprir sua parte. Ou seja, o governo não nos apresentou nenhuma proposta”, disse Marcus Firme.
Ele informou que vários policiais federais já foram intimados para depor durante o julgamento do mensalão.
“Minha preocupação é que eles são profissionais que têm informações privilegiadas, mas, como são conscientes de seu dever cívico e ético, jamais se deixarão influenciar. Além, é claro, de cumprirem o sigilo que determina a profissão”, garantiu Marcus Firme.
Na quarta-feira (01/08), o Conselho de Representantes da Federação Nacional dos Policiais Federais aprovou o indicativo de hgreve geral dos policiais federais. Os estados irão definir as ações que serão realizadas a partir da semana que vem. Os policiais devem realizar operações padrão nas fronteiras, aeroportos e portos. Os federais pedem a saída do atual diretor geral da PF, a reestruturação salarial e da carreira.
Depois de negociarem por quase três anos com o Ministério do Planejamento, os policiais aguardavam uma proposta oficial do governo até 31 de julho. O governo, no entanto, não encaminhou nenhuma proposta ao Conselho de Representantes e tão pouco agendou uma nova reunião.
O governo tem até o dia 31 de agosto para encaminhar emendas à LDO visando reestruturação salarial dos policiais.
“Eu ainda acredito no governo federal. O Ministério do Planejamento reconhece nossos pleitos, mas não define nada”, disse Marcus Firme.