O governador Renato Casagrande (PSB) inaugurou em seu governo um novo jeito de encarar os problemas. Diferente de seu antecessor, Paulo Hartung (PMDB), que era blindado por um forte aparato de comunicação, Casagrande põe “a cara à tapa” e discute publicamente todos os temas. Neste momento, o mais preocupante para a sociedade é, sem dúvida, a segurança pública.
O modelo de transparência adotado por Casagrande se espalhou pelo secretariado. Pelo menos entre a cúpula policial, responsável maior pelo combate à impunidade e à criminalidade.
Hoje, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Henrique Herkenhoff, o chefe de Polícia Civil, delegado Joel Lyrio Júnior, o comandante da Polícia Militar, coronel Ronalt Williaun, e o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Fronzio Calheiro, falam por si.
Raramente, mandam recados por meio de nota oficial. No início, a PM até que tentou resistir, quando o comandante geral era ainda o coronel Anselmo Lima. Não leu direito na cartilha do governo e acabou perdendo o cargo.
Delegados de Polícia e comandantes militares – sejam eles oficiais ou praças – já podem vir a público falar claramente sobre inquéritos ou ações policiais. E, o mais importante, falar abertamente sobre os problemas da segurança pública e o que vêm fazendo, em sua área, para corrigir o que estiver errado.
Um dia depois que a PM ocupou, com suas forças especiais – BME e Rotam –, alguns morros de Vitória, o governador Renato Casagrande foi entrevistado pelo Bom Dia Espírito Santo, da TV Gazeta, sobre os problemas da segurança. Não fugiu do tema; falou com clareza o pensamento do governo e, de maneira objetiva, disse que o lugar da polícia é, de fato, nas ruas.
Ao mesmo tempo, o secretário da Segurança, o comandante geral da PM, coronel Willian, e o comandante do Policiamento Ostensivo Metropolitano, coronel Edmilson dos Santos, o comandante do 1° Batalhão (Vitória), tenente-coronel Reinaldo Brezinski Nunes, davam diversas entrevistas abordando a ocupação no Bairro da Penha, em São Benedito e em outras regiões, para tentar acalmar a população, que estava em pânico com a guerra entre traficantes.
A história revela, entretanto, que nem sempre o Espírito Santo viveu momentos de transparência na segurança pública. A partir de janeiro de 2003, o governo Hartung inaugurou um novo modelo de se comunicar com a sociedade. Foi um modelo competente (porque ninguém conseguiu derrubar nos oito anos), mas nada transparente e democrático. A sociedade não tinha o direito de argumentar o que a fonte respondia.
Durante oito anos, oficiais da PM e delegados da Polícia Civil não tinham cara. Os delegados só poderiam falar sobre determinado inquérito por intermédio de entrevista coletiva previamente agendada pela Superintendência de Estado de Comunicação, sempre para o horário próximo do ES 1ª Edição (TV Gazeta), às 12 horas.
Oficiais da PM eram proibidos de dar entrevista. Quando surgia problema na segurança – e os problemas no governo passado foram infinitamente superiores aos verificados no atual governo –, os oficiais tinham que ficar calados.
Os comandantes de unidades militares só falavam por meio de nota oficial, através da Assessoria de Imprensa da PM. As notas, aliás, eram padronizadas. Ou seja, tinham sempre as mesmas respostas. Era como se os problemas enfrentados por comunidades como Praia do Canto, em Vitória, e Nova Rosa da Penha (Itanhenga), em Cariacica, fossem os mesmos.
Paulo Hartung nunca se colocou em posição de confronto com a sociedade e a imprensa, quando o assunto eram os problemas enfrentados pelo seu governo, seja na área de segurança, educação e saúde. Os secretários de Segurança também fugiam de debates. Davam entrevistas coletivas, mas com assuntos já acertados por suas assessorias.
Renato Casagrande quebrou esse modelo truculento de prestar contas à população. O governador atual não só vai a público para falar dos problemas e suas soluções como determina aos seus secretários e comandantes das polícias a fazerem o mesmo.
A trajetória política de Casagrande revela sua grandeza como homem democrático e transparente. O governador encara de frente os problemas e soluções sem se esconder atrás de notas publicadas em colunas políticas de jornais. E orienta seus comandados a repetir o gesto, como forma de mostrar à população o que está sendo feito.