“Se o efetivo o Hospital da Polícia Militar (HPM) não for recomposto imediatamente, nosso Pronto Atendimento, o Centro Cirúrgico e o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) poderão fechar a qualquer momento”. O alerta, em tom de desabafo, foi dado nesta segunda-feira (14/11) pelo próprio diretor de Saúde da Polícia Militar do Espírito Santo, o coronel-médico Jorgean Grego Gonçalves.
O oficial informou que, atualmente, o HPM tem 37 médicos, mas a carência é de 71 profissionais. O que preocupa é que o governo do Estado vem a cada ano aumentando os efetivos dos quadros de militares combatentes da PM e do Corpo de Bombeiros, mas não realiza concurso específico para a área de saúde.
Há carência também de profissionais da área de enfermagem. Segundo o coronel-médico Jorgean Gonçalves, há tempos ele vem alertando o governo sobre o risco de fechamento de unidades do HPM. Os atuais 37 médicos do HPM trabalham no atendimento de consulta, pronto socorro (PA), Centro Cirúrgico, CTI e internação.
“Nossos profissionais estão se aposentado e alguns ficando doentes. Não está ocorrendo reposição de profissionais da área médica. Depois de fecharmos o PA, Centro Cirúrgico e o CTI, certamente seremos obrigados a fechar o setor de internação”, lamentou o diretor de Saúde da PM.
O HPM está há 16 anos sem concurso. Os militares lotados no hospital estão há 16 anos sem promoção. Recentemente, o coronel-médico Jorgean Grego Gonçalves entregou um anteprojeto ao governador Renato Casagrande, ao secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Henrique Herkenhoff, e à Assembleia Legislativa, propondo uma reestruturação de toda Diretoria de Saúde da PMES.
A DS da PM engloba cinco centros: HPM, Policlínica, Farmacêutico/Bioquímico, Odontológico e Apoio Administrativo. Todos esses setores se reportam ao diretor de Saúde e estão instalados em Bento Ferreira, no mesmo complexo onde fica o HPM.
Mais de 50 mil pessoas, entre policiais da ativa, da reserva e seus dependentes, são usuários do HPM:
“Estamos há 20 anos sem investimento na Diretoria de Saúde da PM. No dia 2 de setembro, quando comemoramos os 19 anos do HPM, fiz um discurso na presença dos secretários da Casa Civil, Luiz Ciciliotti, e da Segurança, Henrique Herkenhoff, em que falei o seguinte: ‘Não se pode falar em combate à violência se o próprio Estado está armando neuróticos, ansiosos, ou mesmo policiais com problemas físicos, que se precipitam em realizar o disparo de uma arma para não correr o risco de um confronto corporal. Não se pode falar em combate à violência se o próprio Estado usa de violência contra seus órgãos de segurança, ao não ter ações voltadas para a Medicina do Trabalho e prevenção contra acidentes em serviços”, afirmou o diretor de Saúde da PM.
“Depois que fiz esse alerta, já tivemos tragédias provocadas por policiais: um sargento que matou a ex-esposa; um soldado de 25 anos que matou a mãe e depois se suicidou, em Alegre; e o soldado que matou um caminhoneiro após um acidente de trânsito, na Serra”, lembrou o coronel Jorgean Gonçalves.
“Mesmo com esses fatos, tem gente no governo que acha que a saúde do militar é um direito de classe. Na verdade, cuidar da saúde do militar é um direito da população”, ensina o médico e também coronel Jorgean Gonçalves, que indaga:
“Será que esses militares não estavam doentes? Até que ponto não existe responsabilidade do Estado em estar assistindo melhor seu profissional no quesito de saúde, considerando o alto estresse inerente à atividade do policial?”
Ele informou ainda que o estatuto do Sistema Único de Saúde (SUS) deixa claro que as despesas com a saúde do policial e bombeiro militar não podem ser incluídas dentro dos 12% que os governos estaduais obrigatoriamente têm que gastar com a saúde pública, mas o governo capixaba, segundo Jorgean Gonçalves, inclui os gastos com os militares dentro do desse índice.
Se o HPM fechar, os policiais militares que precisarem de atendimento médico – quando ficarem doentes ou sofrerem acidente em serviço – terão que recorrer aos demais hospitais da rede pública ou a hospitais particulares, para os casos daqueles que têm plano de saúde.
O coronel-médico Jorgean Gonçalves usa o exemplo do Estado do Rio de Janeiro como positivo quando o assunto é investimento na saúde do militar Ele lembra que o governador Sérgio Cabral, ao se sentir mal recentemente, ficou internado em um dos dois hospitais da PM fluminense. “O governo carioca já está construindo um terceiro hospital militar”, disse Jorgean Gonçalves.
Uma outra situação grave no Espírito Santo. Embora o Comando Geral da Polícia Militar tenha garantido, no dia 9 deste mês – um dia depois do episódio em que o soldado Saulo Oliveira de Souza matou o caminhoneiro Antônio Rodrigues a tiros, durante discussão de trânsito -, que os militares são submetidos regularmente a avaliação psicológica, a situação não é bem assim:
“A lei diz que todo policial que se envolva numa operação com morte – não importa se a vítima seja militar ou civil – tem que passar por uma avaliação psicológica. No Espírito Santo, sequer há psicólogos nos quadros da PM. Temos, hoje, apenas um psicólogo, que é um servidor civil, que está lotado no HPM”, disse o coronel-médico Jorgean Gonçalves.
“Hoje, o policial que se envolve em algum delito sofre a correição criminal, que é feita pela Corregedoria. Não há uma correição da sua saúde”, lamenta Jorgean Gonçalves.