O traficante Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói, 31 anos, morto numa operação das polícias Federal, Civil e Militar do Rio de janeiro no dia 1° de novembro, tinha negócios milionários no Espírito Santo. Ele instalou no balneário de Guarapari uma espécie de depósito, que vende drogas – cocaína e maconha, principalmente – no atacado. E faz promoção, o que atrai compradores de todo o Estado.
Dono de fazendas no Norte do Estado – em nome de terceiros –, Marcelinho Niterói era o responsável pela expansão do tráfico de drogas na Grande Vitória. A base para depósito de carregamentos de drogas do traficante fica mais precisamente na região do bairro Kubitischek, em Guarapari.
A cocaína armazenada em Guarapari vem, geralmente, dos cartéis da Bolívia, com quem Marcelinho Niterói comercializava diretamente, a mando, segundo informações da Polícia Federal, de seu padrinho Luiz Fernando da Costa, o Beira-Mar, que está preso numa cadeia de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Para se instalar em Guarapari, Marcelinho Niterói nem precisava ir muitas vezes ao balneário. Ele enviou para o bairro Kubitischek vários jovens cariocas. Alguns, com passagem pela polícia; outros, nunca tinham sido presos. No bairro, eles foram logo se aliando aos traficantes locais.
Essa invasão carioca não é de agora. Começou no início dos anos 2000. Aos poucos, os bandidos cariocas foram se impondo e expulsando ou matando aqueles que já habitavam os ares de Kubitischek, à direita logo depois do trevo da Praia do Ypiranga, no sentido Centro de Guarapaxi X Nova Guarapari.
Os traficantes cariocas, ao longos dos últimos 10 anos, foram os responsáveis pela maior parte dos assassinatos ocorridos em Guarapari. Davam ordem para a morte de assaltantes e de traficantess que não liam em sua cartilha. Ou seja, na cartilha de Marcelinho Niterói.
Já a partir de 2008, Marcelinho Niterói foi mandando para Guarapari outra tropa, que eram as milícias, formadas por ex-policiais militares e civis do Rio. É para lá também que ele mandava os bandidos cariocas que queriam se esconder da polícia fluminense.
O mercado de Marcelinho Niterói e seu bando expandiu tanto que eles começaram a negociar armas. Mandavam armas pesadas para o Espírito Santo, a fim de financiar em terras capixabas quadrilhsas de assaltantes.
Algumas dessas quadrilhas se escondiam no Morro dos Gamas, em Cariacica, onde, no dia 9 de junho deste ano o Ministério Público e a Diretoria de Inteligência da Polícia Militar prenderam uma delegada e quatro policiais militares. Segundo o MPE, a delegada e os militares são acusados de receber propina para dar proteção ao chefão do tráfico do Morro dos Gamas, Iranildo de Souza Freitas, que havia sido preso uma semana antes.
Segundo levantamento feito pela Dint, a quadrilha de Marcelinho Niterói emprestava armas para gangues praticarem assaltos no Espírito Santo e estados vizinhos. Em troca, os assaltantes repassavam 30% do que arrecadavam com os assaltos.
Uma dessas armas, a metralhadora Browning, foi apreendida no dia 19 de agosto deste ano por policiais militares de Guarapari no bairro Kubitischek. A metralhadora pesada é capaz de perfurar a blindagem de carros-fortes e de veículos similares aos chamados “caveirões”, usados pela PM do Rio em conflitos com traficantes.
A Browning pode disparar até 400 tiros por minuto e é capaz de atingir um alvo a mais de 1.000 metros. Segundo a PM informou na ocasião, a arma estava desmontada e enterrada atrás de um pequeno cemitério. Dois suspeitos foram presos: Webson Rocha Freire, 28 anos, e Cléber Paula de Oliveira, 33, que já tinham passagem na polícia por tráfico de drogas.
Os dois homens presos confessaram que arma era deles e que tinha vindo do Rio de Janeiro. A polícia descobriu que a metralhadora estava escondida enquanto não era concluída a sua venda, por R$ 30 mil, para bandidos do Bairro da Penha, em Vitória.
Marcelinho Niterói se foi, mas sua quasdrilha está viva. Ao bairro Kubitischek, se deslocam diariamente os homens responsáveis pela compra de drogas em nome de traficantes de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e outros municípios.
De acordo com levantamento da própria PM, os “soldados” do tráfico vão de moto ou de carro, sem despertar suspeita. Vão a Guarapari comprar drogas na liquidação promovida pela gangue de Marcelinho Niterói. Eles compram, no máximo, cinco quilos para que, caso sejam presos pela polícia, o prejuízo com a apreensão da droga não seja tão grande.