“Vou atirar nesses caras agora!”, gritou o traficante conhecido como Carioca. “Não faz isso, não, maluco! Você tá bolado? Se você atirar no helicóptero da PM, o morro vai virar um inferno”. O diálogo aconteceu na manhã do dia 29 de setembro deste ano, numa quinta-feira, quando o helicóptero do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (NOTAer), da Polícia Militar do Espírito Santo, sobrevoava o morro do Alagoano, em Vitória, em apoio ao policiamento a pé que fazia uma incursão no morro.
Os policiais estavam atrás dos assassinos do também traficante e latrocida Stéfano Soares da Silva, o Tubarão, 27 anos (que matou um PM durante assalto a banco), executado com mais de 20 tiros na noite de 26 de setembro, no mesmo morro. Carioca e outros bandidos fazem parte da gangue rival à de Tubarão. Eles se juntaram a traficantes da Ilha do Príncipe e mataram Tubarão. A guerra envolve também duas quadrilhas de traficantes do Alagoano.
De acordo com testemunho de moradores da região, os traficantes estavam escondidos em becos do morro, enquanto a PM fazia operação. Na ocasião, seis suspeitos foram presos. No entanto, o alvo dos militares eram os assassinos de Tubarão, que estariam portando três fuzis 762, que eles mantinham para controlar seus pontos de vendas de drogas no Alagoano e matar rivais.
Ainda segundo moradores, depois da operação da PM os bandidos entraram em um carro e levaram os fuzis para outro morro de Vitória, onde estão escondidos os criminosos e as armas.
Segundo moradores, Carioca estava segurando um fuzil 762, utilizado pelo Exército e em guerras. Quando o helicóptero, que voava baixo, se aproximou do morro – por trás do campo do Alagoano –, Carioca disse que iria atirar. Entretanto, acabou sendo convencido por outro bandido a recuar.
O comparsa persuadiu Carioca com o argumento de que, se eles atirassem contra os policiais militares, certamente a PM iria revidar. O comparsa alegou também que a guerra dos traficantes capixabas, diferente do que ocorre no Rio, não é com a Polícia Militar e sim com outros traficantes.
Moradores do Alagoano informaram que Carioca faz parte do bonde de traficantes que chegou do Rio há cerca de seis meses a Vitória. Parte dos bandidos se instalou no Alagoano. Outros se escondem no Bairro da Penha, Gurigica e bairros da Serra e Vila Velha.
Um policial militar que integra a equipe do NOTAer afirmou ao Blog do Elimar Côrtes que os policiais que estavam no helicóptero no dia da operação no Alagoano não chegaram a ver os traficantes armados com fuzis.
“Nossa missão é dar respaldo às equipes que estão em terra. Não deu para perceber essa suposta tentativa de atirar na aeronave”, disse o policial.
A Diretoria de Inteligência da PM (Dint) já está investigando a atuação dos bandidos do Rio que se instalaram no Alagoano e em outras regiões.