Um raio X sobre a saúde do policial militar do Espírito Santo mostra uma realidade preocupante. Em 2009, pelo menos 5.388 policiais se afastaram de suas atividades por problemas de doença.
Normalmente, cerca de 1.400 militares estão de licença médica ao mesmo tempo, o que dá para formar três batalhões.
Em 2009, o efetivo era de 6.961 militares: 4.712 atuando na Grande Vitória e 2.249 no interior do Estado. Hoje, o efetivo aumentou em mil pessoas.
O que mais preocupa as autoridades capixabas, entretanto, é a inexistência de uma política mais eficiente para se combater as doenças que atingem os militares, justamente eles, que são pagos para dar proteção à sociedade nas ruas.
A Polícia Militar possui uma Diretoria de Saúde, que é responsável por todos os setores médicos da corporação, incluindo o Hospital da PM (HPM), em Bento Ferreira.
A estrutura da DS, no entanto, é precária por falta de investimentos. O setor não conta nem com psicólogo. Hoje, muitos militares se afastam do serviço por causa de problemas com alcoolismo e drogas.
Se depender de projetos, porém, essa realidade poderá mudar. O coronel-médico Jorgean Grecco Gonçalves, diretor de Saúde da PMES, elaborou um projeto, junto com sua equipe, que prevê o redimensionamento da Diretoria de Saúde. O projeto será mostrado ao governador eleito Renato Casagrande.
A DS engloba cinco centros: HPM, Policlínica, Farmacêutico/Bioquímico, Odontológico e Apoio Administrativo. Todos esses setores se reportam ao Diretor de Saúde e estão instalados em Bento Ferreira, no mesmo complexo onde fica o HPM. Quem passa por lá tem a falsa ilusão de que o HPM, onde o São Lucas está funcionando também temporariamente enquanto sua sede está sendo reformada, é gigantesco. Na verdade, todo esse complexo comporta os cinco centros da Diretoria de Saúde.
O HPM e demais centros médicos da Diretoria de Saúde contam hoje com 102 médicos (41 oficiais e 61 civis), o que dá 679 atendimentos para cada um dos profissionais. A média estadual de atendimento médico, contudo, é de um profissional para 500 pessoas. Na Diretoria de Saúde, os médicos atuam no atendimento ambulatorial, atividades clínicas, juntas médicas e administrativas.
Há 17 anos o governo do Estado não promove concurso para os quadros da Saúde da PM. Os médicos da PM sabem que as novas demandas da corporação requerem a definição de um sistema de saúde que atue nos níveis de saúde física, mental e social. Há novas demandas a serem atendidas no campo do apoio psicológico e serviço social.
Um dos planos da equipe do coronel Jorgean Gonçalves é promover uma reestruturação organizacional da Diretoria de Saúde; criar unidades básicas de saúde nos batalhões; criar programa de controle de saúde ocupacional; promover acompanhamento psicológico e Social; ampliar o serviço de saúde mental; criar o serviço de toxicologia; dentre outros.
As doenças que atingem os militares são, em sua maioria, estresse, diabetes e doenças cardíacas. Isso sem contar com os problemas provocados pelo uso de álcool e drogas.
“É fundamental que se faça investimento na saúde do policial militar e do bombeiro militar. Esse investimento tem um objetivo: cuidando da saúde física, mental e psicológica de nossos militares, estaremos garantindo também uma melhor segurança nas ruas. Quem ganhará com isso será a população”, definiu o coronel-médico Jorgean Gonçalves, conforme consta em depoimento dele no site da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo.
A história a seguir dá razão ao coronel Jorgean, sobretudo porque a PM não conta com profissionais da área de psiquiatria para cuidar de seus doentes e nem os manda para tratamento.
Um cabo da PM capixaba foi preso duas vezes – num período de três meses – este ano por prática de assalto.
Nas duas ocasiões, queria dinheiro para pagar dívida com traficantes ou comprar crack. Na primeira vez em que foi preso, ele dizia para seus colegas de farda e colegas de cela na carceragem do Quartel do Comando Geral, em Maruípe, que se a PM não lhe fornecesse tratamento para acabar com o vício das drogas, ele voltaria a cometer delitos.
Ficou três meses preso e foi solto opor ordem judicial. E o cabo cumpriu a ameaça: precisando usar crack, assaltou novamente. Está preso neste momento.
“Esse cabo vai acabar sendo condenado e expulso da corporação. A PM não vai tratar o mal que o aflige e vai devolvê-lo com todos os seus problemas para a sociedade. Solto, ele vai voltar a usar drogas e cometer assaltos. Pior: o cabo é um profissional militar que foi treinado pelo Estado. Vai se tornar um marginal perigoso, porque a PM não cuida de seus doentes”, comentou um outro cabo.