A situação do delegado federal aposentado Rodney Rocha Miranda no comando da Secretaria Estadual de Segurança Pública de Goiás está por um fio. Alvo de graves acusações por parte de um primo do governador Ronaldo Caiado – identificado como Jorge Caiado –, Rodney, que atua por vários anos no Espírito Santo, poderá ser exonerado do cargo, além de se tornar alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa Goiânia.
Na quinta-feira (04/06), o deputado Delegado Eduardo Prado (PV) divulgou um áudio, durante a sessão da Assembleia Legislativa, que circula em grupos de troca de mensagens e é atribuído a Jorge Caiado, primo do governador Ronaldo Caiado.
Na mensagem de voz atribuída a Jorge Caiado, a acusação é de que Rodney Miranda teria desviado R$ 1 milhão em recursos destinados ao Corpo de Bombeiros Militar de Goiás.
No áudio, Jorge também fala que teve seu celular grampeado. Ainda segundo Jorge, Rodney estaria promovendo escutas telefônicas sem autorização judicial com o intuito de prejudicar o governador Caiado no futuro. Jorge Caiado é empresário e tem forte influência em setores da segurança pública de Goiás, principalmente, na Polícia Militar.
De acordo com o Portal da Assembleia Legislativa de Goiás, o deputado Delegado Eduardo Prado disse que confirmou a veracidade do áudio e a denúncia com o próprio Jorge Caiado. Segundo o deputado, a Casa vai buscar investigar as denúncias, inclusive a Comissão de Segurança Pública deverá receber o secretário Rodney Miranda, já na próxima semana.
“Um requerimento convocando Jorge Caiado para dar esclarecimentos sobre a denúncia também foi feito”, informa o Portal da Assembleia Legislativa.
Procurada, a assessoria do Secretário de Segurança Pública se manifestou por meio de nota: A Secretaria de Segurança Pública de Goiás informa que está tomando conhecimento do conteúdo do áudio e que tomará as providências cabíveis, já que possui conteúdo ofensivo e inverídico.
O secretário Rodney Miranda respondeu aos ataques. “Estou tomando providências”, afirmou ele à imprensa de Goiânia. “Tudo mentira, não sei porque fez isso, mas já registrei dois Boletins de Ocorrência na Polícia Civil e vou acioná-lo (Jorge Caiado) na Justiça para apresentar provas do que falou”, completou Rodney.
Os Boletins de Ocorrência, segundo o secretário da Segurança de Goiás, são dois: um contra Jorge Caiado e o outro para investigar quem está difundindo o áudio. Rodney Miranda afirma ainda que sabe quem e por que vazou a gravação, mas não pode adiantar. “No momento certo”, diz.
“Estou fazendo um trabalho sério e honesto e não vou permitir que ninguém levante qualquer suspeita em relação a mim. Minha vida é limpa e absolutamente compatível com o meu trabalho”, afirmou Rodney Miranda.
Imprensa e deputados lembram o Grampo na Rede Gazeta
A imprensa de Goiás repercute também a reação dos deputados que fazem oposição ao governador Ronaldo Caiado. Os parlamentares lembraram o caso antigo de grampo telefônico que envolveu Rodney Miranda quando ele era o secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo.
Trata-se do caso conhecido como Grampo na Rede Gazeta. Conversas mantidas por meio da linha telefônica grampeada, entre março e abril de 2003, foram gravadas, transcritas e anexadas ao processo relativo ao assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, ocorrido em março de 2003. O caso do grampo veio à tona em 10 de dezembro de 2005, em ampla reportagem divulgada pelos veículos de comunicação da Rede Gazeta.
O pedido da interceptação telefônica no processo foi feito pela delegada Fabiana Maioral, hoje corregedora geral da Polícia Civil do Estado do Espírito Santo, e pelo então promotor de Justiça Marcelo Zenkner – ele pediu demissão do cargo de promotor e hoje é consultor de projetos anticorrupção da Petrobras – e concedido pelo então juiz-titular da 4ª Vara Criminal de Vila Velha, Sérgio Ricardo de Souza.
No pedido constava uma lista de telefones, inclusive o da Rede Gazeta. Porém, na lista, o telefone da empresa aparecia como se fosse de propriedade da empresa Telhauto. Na ocasião, Rodney Miranda afirmou que houve um erro por parte da operadora de telefonia e ele, inclusive, diz que foi indenizado por isso em 2006.
Rodney foi demitido por Hartung ‘por ter mentido’ e trazido de volta por pressão da família Ferraço
O secretário Rodney Miranda, em entrevista ao Portal de Notícias Mais Goiás na quinta-feira (04/06), ao falar sobre o ‘Grampo na Rede Gazeta’, comete um “equívoco” histórico. Disse que deixou o cargo, naquele momento para evitar o mal estar.
“Em 2003, a Polícia Civil fez uma série de requerimentos para investigar o assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, e um dos números (de telefones) enviados pela operadora foi errado. O número era para ser o da Telhauto, mas mandaram o da Gazeta. A polícia descobriu o erro, informou o Judiciário, mas o jornal achou por bem divulgar o caso. Então, eu resolvi me afastar, mas processei a operadora, junto com uma delegada e um promotor de Justiça, e ganhamos.”
Rodney Miranda não pediu demissão. No dia 13 de dezembro de 2005 ele foi exonerado do cargo de secretário pelo então governador Paulo Hartung. Foi demitido porque o governador ficou revoltado pelo fato de Rodney ter negado para ele (Hartung) que tivesse ocorrido o caso do grampo contra a Rede Gazeta:
“Eu demiti o Rodney Miranda pela mentira que ele me contou”, disse Paulo Hartung, certa vez, em um almoço no Palácio Anchieta com um grupo de editores do jornal A Tribuna. A declaração de Hartung foi dada na presença de seu então secretário de Comunicação, Sebastião Barbosa, e do titular deste Blog – que, na ocasião, era editor executivo-adjunto de A Tribuna.
Rodney Miranda foi secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo em dois períodos: entre 01 de janeiro de 2003 a 15 de dezembro de 2005 e 3 de maio de 2007 a 30 de março de 2010. Depois de exonerado por Paulo Hartung, em dezembro de 2005, ele atuou como secretário de Defesa Social do Estado de Pernambuco. Foi exonerado e aceitou o convite para a Secretaria de Segurança de Caruaru, no agreste pernambucano.
Rodney Miranda voltou a ser secretário da Segurança no Espírito Santo por pressão do então vice-governador de Hartung, Ricardo Ferraço, e seu pai, o deputado estadual Theodorico Ferraço, chefe maior do DEM em terras capixabas.
Pai e filho foram de jatinho a Pernambuco no dia 28 de abril (num sábado) de 2007 sondar Rodney para a sua volta, com o objetivo maior de lançá-lo a candidato a deputado estadual em 2010. Carreirista, Rodney Miranda aceitou. Pressionado pela família Ferraço, Hartung concordou.
Na segunda-feira (30/04/2007) Rodney Miranda, também de jatinho, aterrissou em Vitória e foi ao Palácio Anchieta conversar com o governador Paulo Hartung. Fechou-se ali a sua volta ao comando da Sesp. E, na quinta-feira (03 de maio de 2007) seguinte, ele assumiu o cargo, que deixou em 30 de março de 2010 porque seria candidato naquele ano.
Em 2010, na sua primeira eleição, Rodney foi eleito deputado estadual com a maior votação (mais de 69 mil votos). Ficou menos de dois anos no Parlamento. Em outubro de 2012 foi eleito prefeito de Vila Velha, com 121.945 votos. Tentou a reeleição em 2016, mas foi derrotado por Max Filho.
A revolta do primo do governador de Goiás
No áudio, Jorge Caiado acusa o secretário Rodney Miranda de grampear o seu telefone e de pegar R$ 1 milhão que seriam do Corpo de Bombeiros. Jorge, primo do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, ataca Rodney por querer “explodir o pessoal” dele que está no governo.
O áudio é um apanhado de palavrões sem precedente. O assunto repercutiu na Assembleia Legislativa de Goiás durante toda a tarde de quinta-feira (04/06), que aprovou a convite a Rodney para prestar esclarecimentos.
Na discussão de matérias da Ordem do Dia na quinta-feira, o deputado Delegado Humberto Teófilo (PSL) endossou a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar acusação de corrupção envolvendo o secretário Rodney Miranda;
Ele também repercutiu a aprovação de requerimento, pela Comissão de Segurança Pública, convidando o secretário a esclarecer os fatos e defendeu, também, a extensão do convite para o governador Ronaldo Caiado e seu primo prestarem esclarecimentos.
O deputado externou sua preocupação com supostas irregularidades já apontadas em outras secretarias e órgãos, como a Codego, no atual Governo. Ele acrescentou que sua intenção, através desses esclarecimentos, é colaborar para o bom funcionamento da máquina pública estadual.
“São preocupantes essas situações. Outros secretários vão sair na reforma administrativa. Proponho a Talles Barreto fazermos uma CPI para averiguar todas essas supostas irregularidades no Governo, até mesmo para ajudá-lo”, comentou o Delegado Humberto Teófilo.
Transcrição do áudio:
Oi secretário Rodney, tudo bem? Aqui é Jorge Caiado e eu quero falar com o senhor o seguinte: o senhor tem que largar de ser cabra safado ( palavrões). Você não vem querer grampear telefone meu, não sou bandido, o senhor me respeita (Palavrões). Então, você está querendo explodir o governo do Ronaldo Caiado. Eu não admito e não aceito. Você fica levando todo mundo na conversa, você é um 171, um safado. E eu não sou Eurípedes não. Eu quebro a sua cara, seu moleque safado. Tá certo? Você que pegou dinheiro do governo, R$ 1 milhão do bombeiro. Você fez um trato e quer explodir o pessoal nosso todinho. Gente da minha confiança. (Palavrões). Você não é homem, você é frouxo, covarde. Marca um lugar que você quer ir, comigo. E chama seus amarra-cachorros, esses ladrãozinhos. Você me respeita (palavrões).”